segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Surgiu uma estrela

A Unidos da Tijuca é uma das três Escolas de Samba mais antigas do Rio de Janeiro. Junto com a Mangueira e com a Portela, a agremiação do Morro do Berel participou do primeiro desfile de Carnaval, organizado em 1932.

Mas já a muito tempo a Escola não vinha apresentando grandes desfiles e chegou a oscilar entre Grupo Especial e Acesso algumas vezes na década de 80 e em 1998.

O último bom desfile da Tijuca, tinha acontecido em 2000, quando retornava a Elite e conseguiu uma brilhante 5° colocação com o enredo "Terra das Papagaios... Navegar Foi Preciso", do carnavalesco Chico Spinoza.

Depois disso, foram desfiles bonitos, mas fracos no ponto de vista técnico. Muito pouco para uma agremiação com a tradição da Unidos da Tijuca.

Mas a coisa começava a mudar logo após o Carnaval de 2003. O carnavalesco Mílton Cunha foi dispensado pelo presidente Fernando Horta e a Escola tentava sem sucesso a contratação de um novo artista. O nome de Chico Spinoza era a primeira opção da Escola, mas como Chico estava na Mocidade Independente, dificilmente a negociação daria certo.

Após algumas sondagens que não evoluíram, Horta surpreendeu a todos ao fechar com o até então desconhecido Paulo Barros. Paulo tinha passagens por Unidos do Cabuçu e Vizinha Faladeiras nos Grupo de Acesso e estava praticamente fechado com a Caprichosos de Pilares para o Carnaval de 2004. Mas devido a questões políticas na Escola de Pilares, ele foi preterido pelo jovem Cahê Rodrigues.

Já pensaram que a história poderia ter sido diferente? Hoje poderiamos estar falando de Caprichosos de Pilares e não da Unidos da Tijuca.

Mas voltando ao tema do post, Paulo Barros chegou com muita personalidade e apresentou o enredo "A Criação do Sonho e o Sonho da Criação - A Arte da Ciência no Tempo do Impossível", um tema que abordaria as principais evoluções da ciência ao longo da história da humanidade. Algo inédito até então.

No entanto, o estilo de trabalho de Paulo Barros era diferente de tudo que já tinhamos visto ao longo de décadas de Carnaval. Contam que o barracão de Escola era sinônimo de desespero de diretores e torcedores, pois o que se via até poucos dias antes do desfile era um emaranhadod e ferros retorcidos e estruturas que não formavam nada que poderia ser carnavalizado.

O carro do DNA por exemplo, era motivo de discordia dentro da Escola. Mal sabiam eles que essa alegoria mudaria definitivamente a cara da agremiação e os rumos da Folia carioca.

A genialidade do carnavalesco ia muito além. A fantasia da comissão de frente já dava mostras de que o desfile seria algo inovador!!!

Fantasiados de robôs (foto), os 14 componentes da comissão possuiam fantasias que traziam diversas engrenagens, relógios e chapas de metal. Tudo isso sobre uma base giratória controlada por uma bateria embutida nas costas do componente. Além disso, em determinados momentos do samba, o figurino ganhava uma iluminação especial que destacava ainda mais a fantasia.

Na seqüência, o carro abre-alas trazia a figura do físico Albert Einsten, mestre de cerimônias que foi o responsável pela apresentação do enredo.

À partir daí a criatividade do carnavalesco não teve limites. Passaram pela avenida alas de múmias, destaques representando Frankeinstein, além é claro do deslumbrante carro do DNA.

Pois é... a estrutura metálica tão combatida na época pré-carnavalesca ganhou vida com mais de 100 componentes com os corpos pintados de azul, representando os movimentos das moléculas de ácido desoxi ribonucleico, o nome científico do DNA.

Fora isso, o samba enredo apenas mediano ganhou em empolgação e a bateria de méstre Celinho deu um verdadeiro show. O que qualificou ainda mais o desfile inovador e correto da Unidos da Tijuca.

Ao termino da primeira noite, a Escola era ao lado da Portela uma das preferidas do público.

Na apuração, a Tijuca foi a única agremiação a fazer frente a campeã Beija-Flor de Nilópolis. Mas ainda não seria dessa vez que o tão sonhado título chegaria para a comunidade do Borél.

No entanto, o vice-campeonato foi muitíssimo comemorado. Era uma reviravolta na história da Escola. O que acabou culminando em uma série de grandes desfiles até chegar ao título incontestável de 2010.

Aí você me pergunta: porque então o maior desfile da Unidos da Tijuca na década não é o do título??? Simples, porque sem esse arrebatador desfile de 2004, nada disso estaria acontecendo com a Escola. Lembrem-se, Paulo Barros era para fazer esse mesmo enredo na Caprichosos de Pilares, e aí a história poderia ter sido totalmente diferente.

Por isso, o Carnaval de 2004 é extremamente especial. Foi o nascimento de uma grande estrela da Folia e que hoje brilha no mais alto posto que um carnavalesco pode alcançar, o de campeão do Grupo Especial carioca!!!

Carnaval 2004

G.R.E.S. Unidos da Tijuca
Enredo: "O Sonho da Criação e a Criação do Sonho - A Arte da Ciência no Tempo do Impossível"
Carnavalesco: Paulo Barros
Colocação: 2° lugar

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