sábado, 17 de dezembro de 2011

O adeus ao grande mestre

A notícia que certamente nenhum sambista estava preparado para receber chegou na manhã deste sábado (17/12). Mais precisamente às 10:55 h.

Morria no Maranhão o carnavalesco Joãosinho Trinta (foto), de 78 anos.

João Clemente Jorge Trinta ao chegar ao Rio de Janeiro, prinmeiramente estudou balet e integrou o corpo de baile do Theatro Municipal, onde paralelamente a dança, aprendeu técnicas de cenográfia, o que futuramente lhe renderia as maiores glórias de sua vida artística.

Em 1963, por convite de Arlindo Rodrigues, passa a integrar a equipe do carnavalesco então nos Acadêmicos do Salgueiro, Escola onde João trabalhou ao lado de grandes mestres, como Fernando Pamplona, Mária Augusta Rodrigues, Rosa Magalhães, além é claro do próprio Arlindo.

Em 1973, após a saída da dupla Pamplona/Arlindo, Joãosinho assume ao lado da cenógrafa Mária Augusta a confecção do Carnaval da Vermelho e Branco. Com o enredo "Eneida, Amor e Fantasia", homenageando a escritora paráense Eneida de Moraes, o Salgueiro conquistou a 3° colocação naquele ano e o trabalho de João se consolidou. Em 1974 e 1975, o carnavalesco conquistava os seus primeiros títulos, com "O Rei de França na Ilha da Assombração" (1974) e "O Segredo das Minas do Rei Salomão" (1975).

Ainda durante o ano de 1975, João deixa o Salgueiro por não concordar com a maneira como Osmar Valença, então presidente da Vermelho e Branco vinha administrando a Escola e por intemédio do bicheiro Aníz Abraão David, desembraca em Nilópolis para fazer o carnaval de 1976 da então pequena e obscura Beija-Flor, agremiação que se caracterizava na época por enredos que exaltavam o Regime Militar.

Logo em seu primeiro ano na Azul e Branco, João foi campeão com o enredo "Sonhar com Rei dá Leão", falando sobre o jogo do bicho. Era apenas um prenúncio do que viria. Em 1977, com "Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egípciana" veio o bi-campeonato, e em 1978, com o antológico "A Criação do Mundo na Tradição Nagô", o terceiro título para a Escola de Nilópolis.

Ainda na Beija-Flor, conquistou os títulos de 1980 (O Sol da Meia Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas) e 1983 (A Grande Constelação das Estrelas Negras).

Após o Carnaval de 1992, Joãosinho Trinta deixa a Beija-Flor e depois de ficar de fora dos desfiles de 1993, acaba chegando a Unidos do Viradouro, onde em 1997, o carnavalesco conquistou o seu último título no Grupo Especial com o impactante "Trévas, Luz: A Explosão do Universo", em um Carnaval que ficou marcado pela pusadia do uso do preto em fantasias e alegorias.

João trabalhou ainda na Acadêmicos do grande Rio (2001 a 2004) e na Unidos de Vila Isabel (2005), sua última Escola de Samba.

Desde 2006, vinha se tratando no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.

João morreu pobre, mas deixou um legado que jamais se perderá. O carnavalesco re-inventou o Carnaval, no melhor sentido da palavra re-inventar. A famosa frase: "Intelectual gosta de iséria, pobre gosta é de luxo", musou de uma vez por todas a visão que as pessoas faziam das Escolas de Samba. A Baija-Flor de Joãosinho Trinta foi a visão mais do que perfeita da estética que revolucionou a história da Folia no Brasil.

A grandiosidade das alegorias e o apuro nas fantasias eram definitivamente as marcas desse artista, que hoje, "deixou a vida para entrar para a história", como brilhantemente fora apregoado por Getúlio Vargas em uma de suas mais marcantes frases.

Nós, carnavalescos, amantes do Carnaval e até mesmo aqueles que não se rendem as maravilhas do maior espetáculo da terra, reconhecem e concordam que o menino João foi o maior naquilo que fez. Sua obra está imortalizada, assim como o seu nome.

Joãosinho Trinta foi o retrato de um povo, do povo que vive as dificuldades da vida mas nunca desiste de plantar suas raizes em vasos mais belos.

Descanse em paz, oh grande mestre!!!

João Clemente Jorge Trinta

*1933 - + 2011

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