quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O sanduíche que deu samba

Este ano estou me preparando para retornar ao Carnaval bragantino com a responsabilidade de conduzir a Unidos das Águas Claras ao título de campeã do Grupo de Acesso.

No meu último trabalho em Bragança Paulista, em 2010, tinha a mesma missão, porém, com uma agremiação bem mais modesta, a Mocidade Independente Júlio Mesquita.

Na ocasião, trabalhando em parceria com a carnavalesca Mirella Fernanda, desenvolvemos e levamos para a avenida o enredo "Da Elite ao Popular, da Inglaterra para o Mundo e do Mundo para o Palco da Folia: é Sanduíche tá na Boca do Povão", que narrava a história do sanduíche.

Quando assumi os trabalhos da Mocidade em agosto de 2009, sabia que tinha um grande desafio pela frente, já que a agremiação não contava com uma condição financeira das mais favoráveis, pelo contrário, passava por um dos piores momentos de sua história e para agravar ainda mais a situação, um enorme racha na diretoria fazia com que a Escola não encontrasse um ponto de equilíbrio.

Nos primeiros dois meses os trabalhos correram de maneira satisfatória, com os desenhos e protótipos sendo confeccionados dentro do cronograma.

Os problemas surgiram em meados de outubro, quando o dinheiro faltou de vez e os trabalhos ficaram parados por cerca de 6 semanas, somente com um pequeno grupo formado por Claudio de Moraes, Eunice da Luz e por uma senhora que infelizmente não me lembro o nome, mas que trabalhou de maneira incansável para colocar a Mocidade na avenida.

Somente na segunda quinzena de janeiro (já bem próximo do dia do desfile) é que a presidente Manriet Pires (Tata) conseguiu contornar a situação e injetou um dinheiro no barracão da Escola. Lá, eu, Mirella, e os irmãos Leandro e Natalie Quarteroni tiravamos "leite de pedra" com o que tinhamos em mãos. Arame, jornais velho, papelão, raspa de madeira e tubos de plástico ganhavam cor e passavam a compor a decoração das alegorias.

Mesmo com todos esses problemas, no dia 13 de fevereiro, tudo estava pronto e a Mocidade foi a segunda Escola a desfilar na passarela Chico Zamper, pelo Grupo de Acesso.

Cantando um samba no qual eu fui um dos autores em parceria com meu pai Sérjão e com o consagrado e multi-campeão de sambas enredo, Gera da Cuíca, a Mocidade surpreendeu positivamente em sua evolução. As alas que exibiam fantasias grandes e até certo ponto luxuosas, desfilaram empolgadas e cantando o samba do início ao fim. As alegorias, mesmo sendo as menores do desfile do Acesso, apresentavam bom acabamento e coesão com o enredo, como pode ser visto na foto que ilustra a postagem (carro abre-alas "Reinado de Jorge II").

Com todos os problemas enfrentados para a construção deste Carnaval, a 3° colocação obtida em 2010, aliada a dois Estandartes de Ouro conquistados (melhor enredo e melhore samba enredo), fizeram do desfile da Mocidade um dos melhores momentos da agremiação após o seu rebaixamento em 2000.

Ainda hoje tenho muito amigos em Júlio Mesquita e sei que as portas seguem abertas para mim junto a agremiação.

Relembrei esse desfile hoje, pois me encontrei com o diretor de carnaval da Mocidade da época, o Luis Carlos Medeiros (Pelêgo) e rimos bastante lembrando dessa apresentação. Assim, decidi compartilhar com vocês algumas das peculiaridades que envolveram este trabalho.

Segue a letrado samba enredo de 2010:

Compositores: Gera da Cuíca, Sérjão e Sérgio Júnior

Hoje a Mocidade contagia
Vem mostrar no dia-a-dia
Que a vida é só trabalho e agitação
Mal fazemos uma breve refeição
No século XVII o homem inglês
Jogava cartas o dia inteiro
Sem ter tempo pra comer
Esta breve refeição eu vou fazer

Pega o pão corta no meio
Põe o recheio é a solução
É sanduíche tá na boca do povão

Sanduíche da gente...
Tem cachorro-quente no meio do pão
Até o astronauta levou na sua missão
Em diversos países até virou lazer
Todo mundo quer comer

Sanduíche da vida...
Tem recheio de amor
Tem também o cultural
Com a Mocidade nesse Carnaval

É gente pra lá...
É gente pra cá...
E no recheio a Mocidade vai passar

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