quarta-feira, 12 de outubro de 2011

2001: brilhou a estrela Imperial

Durante todo o ano de 2000, a credibilidade da LIESB fora colocada em cheque devido aos acontecimentos que culminaram no título da Acadêmicos da Vila e no vice-campeonato da Dragão Imperial naquele Carnaval em decorrencia do benefício que ambas receberam ao terem a cronometragem de seus desfiles interrompidas com as respectivas agremiações ainda em plena evolução no sambódromo.


Mas fato é que mesmo com todas as especulações que envolviam a entidade, o seu presidente, Cléber Centini Cassali não deixou um único momento de trabalhar pela realização de um espetáculo grandioso em 2001.


As Escolas de Samba estavam em sua grande maioria empolgadas com a possibilidade de um aumento na subvenção (o que acabou acontecendo) e vislumbravam a crescente dos desfiles em todos os sentidos.


Uma diferença em relação aos últimos dois anos no entanto estava condicionado ao fato de não haver cobertura televisiva, uma vez que a Tv Bragança havia fechado suas portas na metade de 2000. Tal acontecimento proporcionou um aumento considerável no número de espectadores nas quatro noites de desfiles na Passarela Chico Zamper.


No domingo, dia 25 de fevereiro, o Sol brilhava e os carros alegóricos das Escolas de Samba chamavam a atenção de todos que passavam pela Avenida dos Imigrantes, local destinado para a concentração. A noite, o forte calor foi a tônica durante todos os desfiles, o que acabou por deixar o público que lotava as arquibancadas ainda mais empolgado.


Pontualmente as 20:00 h. o aguardado desfile do Grupo Especial teve início.



Ainda sem estrutura, a simplicidade foi a tônica da Fraternidade


SOCIEDADE CULTURAL FRATERNIDADE - Abrindo o desfile das grandes Escolas, a Sociedade Fraternidade fazia a sua estréia no Grupo Especial driblando os problemas enfrentados durante a sua preparação e disposta a valorizar o Carnaval bragantino. Visivelmente mais simples que as demais agremiações, a tricolor da zona norte apresentou o enredo "Deuses Escultores", do carnavalesco Rodrigo Russo e narrava a história da criação do mundo na visão dos índios Karajás. Com pouco mais de 500 componentes, a Escola abriu seu desfile com uma comissão de frente muito bem coreografada representando os feiticeiros da floresta, com uma fantasia toda em palha desfiada com plumas em vermelho e azul, um dos raros momentos de qualidade na apresentação da Fraternidade. O carro abre-alas trouxe a figura de um índio saindo das pedras, representando uma das principais lendas da cultura Karajá. A alegoria, no entanto, pecou pelo acabamento e a simplicidade dos figurinos dos destaques. Ao longo do desfile, o azul, vermelho, branco e prata predominaram nas fantasias e nos adereços, mas, em termos plásticos a Sociedade Fraternidade deixou a desejar. O samba defendido com muita garra por Marquinhos Sambagode tinha letra difícil e melodia pesada, o que comprometeu o seu desenvolvimento junto a bateria. No final, uma alegoria trazendo um apelo em pró da preservação da natureza trouxe belos destaques e agradou. No mais, uma apresentação sofrível.



O harmonioso colorido da Amazônia

DRAGÃO IMPERIAL - Logo que fora anunciada, a Dragão Imperial provocou um grande alcoroço nas arquibancadas do sambódromo com a sua enorme e vibrante torcida. Entoando um grito de preservação da maior floresta tropical do Mundo, o enredo "Amazônia, uma Dádiva Para o Mundo", do carnavalesco Theodoro Trinta mostraria as lendas, a cultura e o desenvolvimento do maior estado do Brasil. Com cerca de 750 componentes, a Escola evoluiu muito bem e se apresentou com um grande e animado bloco compacto, que transformou a Passarela Chico Zamper em um belíssimo mar de cores. Apesar do samba enredo defendido com a categoria de sempre de Cássio Imperial não ser um dos melhores do ano, a bateria soube explorar com muita competencia os seus momentos de explosão. O carro abre-alas era composto por uma nau espalhola, fazendo referencia a expedição de Francisco Orellana. As primeiras alas que se apresentaram, fizeram referencia as lendas do estado do Amazonas, entre elas a cobra grande, o curupira e a iara, presentes também na segunda alegoria do desfile. Houve também um setor dedicado a figura de Chico Mendes. Mesmo trazendo as menores alegorias do ano, a Escola se deu muito bem pelo conjunto proporcional que apresentou, tendo na ala das baianas e na última alegoria, os destaques mais expressivos de seu desfile. Foi sem sombra de dúvidas o seu mais belo desfile no Grupo Especial.

O carro "bolo de casamento" da Unidos do Lavapés não gerou o impacto esperado

UNIDOS DO LAVAPÉS - Quando os mais de 800 componentes entraram na avenida, o público foi pura animação para reverenciar a "mãe" do samba bragantino. O enredo "No Jogo da Vida, Banco a Sorte Pra Valer", do carnavalesco Eduardo Rojo, pretendia falar sobre os jogos, fazendo uma ligação com o cotidiano do homem. A comissão de frente apresentou-se com uma fantasia semelhante a utilizada no ano anterior e representou os Reis Magos, prenunciando a águia cigana, traziada no carro abre-alas. Multicoloridas, as alas faziam referencia a todos os tipos de jogos conhecidos pelo homem, com destaque para todo um setor referente ao esoterismo, com uma bela ala de índios e uma alegoria com duendes, trevos de quatro folhas e uma gigantesca bola de cristal toda espelhada. A Unidos do Lavapés teve alguns problemas de evolução e as alas do "bingo" e da "loteria" chegaram em alguns momentos a se misturarem, provocando uma certa confusão entre alguns diretores de harmonia. Talvés prejudicada pelo seu samba que nem de longe lembrava os maiores clássicos da agremiação, o desfile foi ficando cansativo. Nem a tão aguardada alegoria referente ao casamento provocou o impacto que era esperado. No final de sua apresentação, algumas alas tiveram de correr para completar o percurso em 50 minutos, provocando vários claros na pista. Com esse desfile a torcida verde e rosa sabia que mais uma vez não deveria brigar pelos primeiros lugares.

O imponente abre-alas da Acadêmicos da Vila

ACADÊMICOS DA VILA - Na luta pelo penta-campeonato, a azul e branco de Vila Aparecida comemorava os seus 25 anos na passarela do samba com o enredo "Vivências, uma Escola em Evolução", do carnavalesco Robson Silva. Faltava alguns minutos para as 23:00 h. quando o gigantesco carro abre-alas da Vila começou a se movimentar na concentração, arrancando os primeiros gritos de "é campeã" do público das arquibancadas. Rivalizando com a Dragão Imperial em materia de torcedores, as tradicionais bandeirinhas azul e branco tomaram conta de toda a extenção da pista. Com um contingente de aproximadamente 900 componentes, o carnavalesco optou por desfilar com apenas 3 alegorias, privilegiando assim os seus desfilantes e a possibilidade de criar grandes fantasias. Em termos plásticos, nenhuma Escola passou tão bem quanto a Vila. O que se via era uma sequência de alas, adereços e alegorias irrepriencíveis, de um bom gosto realmente indiscutível. No primeiro setor, a Escola mostrou os seus grandes baluartes e contou a história de sua fundação. Na sequência surgiram alas ricamente vestidas e diversos adereços que representavam as principais conquistas da agremiação. Uma linda alegoria toda espelhada e com milhares de Cd's abriu o setor denominado "Uma Escola em Evolução", que abordou os projetos sociais da azul e branco com destaque para a sua Escola de Samba Mirim, a Vila do Amanhã. Apesar de toda a beleza apresentada na avenida, um fato pra lá de inusitado tirou o penta-campeonato das mãos da Escola: em meio a evolução, o time de intérpretes liderados por Otto, parou de cantar o samba enredo e começou a "puxar" a música "Vou Festejar", um dos hinos da agremiação. Ninguem entendeu nada. No mesmo instante, um recurso foi registrado junto a LIESB para que o fato fosse investigado. Uma pena, pois foi de longe o melhor desfile do ano.


A coroa da Nove de Julho


NOVE DE JULHO - Contando com cerca de 850 componentes, divididos em 17 alas, a vermelho e branco do bairro do Taboão apostou no principal motivo de criação para tentar quebrar um jejum que já durava 6 anos, defendendo o enredo "Nove de Julho é Revolução", desenvolvido pelo carnavalesco Avelino Gomes. Contando com um samba animado que dizia "... O vermelho e branco mora no meu coração/Sou Nove de Julho o orgulho da nação", nada melhor do que abrir o seu desfile com uma pequena alegoria trazendo a coroa, simbolo maior da agremiação. Na sequência a política do café com leite foi abordada em alas vestidas com fantasias de muito bom gosto. No setor denominado "Esperança", um belo carro alegórico trouxe a réplica do trem que hoje se encontra no museu do revolucionário no Lago do Taboão. Neste setor também estiveram algumas das mais luxuosas fantasias da agremiação. Pela primeira vez a frente do microfone principal da Nove, Carlinhos Pires me pareceu um tantoq uanto "travado" e não conseguiu desempenhar a função de maneira que mereça destaque. A bateria de mestre Coruja, essa sim é digna de elogios. No final de sua apresentação, uma grande alegoria trazia o monumento da praça Nove de Julho com escultura de um índio segurando um soldado ferido nos braços. Com destaque para a harmonia da Escola, a Nove deixou a avenida com boas chances de conquistar o campeonato.


A apuração que estava marcada para acontecer na Passarela Chico Zamper, teve de ser transferida para o Batalhão da Polícia Militar, na avenida José Gomes da Rocha Leal, devido a grande confusão que tomou conta do local quando fora anunciada a perda de 30 pontos da Acadêmicos da Vila por descumprir o regulamente apresentando na avenida uma música "estranha".


Na leitura das notas do Grupo de Acesso, a vitória da Caprichosos Saada foi se desenhando logo nos primeiros módulos de julgamento. Ao final, 15 pontos a separaram da vice-campeã, a Mocidade Júlio Mesquita.


Os envelopes com as notas dos desfiles de domingo foram enfim abertos, a superioridade da Acadêmicos da Vila era notória, mas com a perdade 30 pontos, a expectativa de seus diretores e de sua torcida naquele momento era pela permanência no Grupo Especial. Com isso, Dragão Imperial e Nove de Julho iam travando uma emocionante disputa pela ponta da tabela. Na leitura das notas dos 3 primeiros quesitos, a vermelho e branco liderava a apuração com uma vantagem de 3 pontos para a concorrente. Mas quando os quesitos plásticos foram apurados a Dragão Imperial saltou para o primeiro lugar. Enquanto isso a Unidos do Lavapés perdia pontos preciosos em alegorias e adereços, fantasia e conjunto, afastando assim a verde e rosa da briga pelo título. Mesmo perdendo alguns pontos em mestre-sala e porta-bandeira e conjunto, a Dragão Imperial já havia aberto uma considerável diferença para as demais e comemorou o seu primeiro campeonato. A diferença de 29 pontos para a 4° colocada, Acadêmicos da Vila, mostrou que se não fossem os pontos perdidos, o penta-campeonato da azul e branco teria se confirmado. A classificação final do desfile foi a seguinte:


1° Dragão Imperial - 294 pontos;

2° Nove de Julho - 284;

3° Unidos do Lavapés - 274;

4° Acadêmicos da Vila - 265;

5° Sociedade Fraternidade - 258.


Cumprindo o regulamento, a Sociedade Fraternidade que havia perdido 6 pontos inexplicáveis devido a falta das cores oficiais na fantasia da comissão de frente foi rebaixada.


Em um Carnaval onde enfim a barreira das chamadas "3 Grandes Escolas" fora quebrada e o título ficou com a emergente Dragão Imperial, vimos a LIESB se recuperar em termos de organização, mas não sem se envolver na polêmica punição da Acadêmicos da Vila.


A bem da verdade, fica registrado que nunca se pode agradar a todos. Mas uma coisa ninguem pode contestar: a vitória da Dragão Imperial se deu em cima do erro da Vila. Doa a quem doer, a arrogãncia e o salto alto derrubaram um dos mais belos desfiles de todos os tempos.


"Viva o Carnaval"!

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