segunda-feira, 30 de abril de 2012

"A minha emoção vai te convidar..."

Zebra? Surpresa?

Bom, vendo o recente histórico da Unidos da Tijuca, não dá pra considerar o título de 2012 um absurdo.

A bem da verdade, o estilo Paulo Barros vem consolidando a Azul e Ouro do Borel como uma das maiores agremiações do Carnaval carioca neste início de século. E não dá pra negar que este seja o estilo da moda atualmente.

E olha que quando o enredo sobre o centenário de Luiz Gonzaga foi anunciado eu fiquei me perguntando como o Paulo conseguiria imprimir o seu estilo em uma temática tão regionalista e tradicional quanto essa. E não é que ele consegiu...rs

"O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida Para Coroar o Rei Luiz do Sertão" foi o enredo responsável pelo terceiro campeonato da Escola no Grupo Especial, o segundo em 3 anos.

Como já vem se tornando marca registrada da agremiação, a comissão de frente coreografada pelo casal Rodrigo Negri e Priscila Motta foi um show à parte. "O Espírito da Sanfona" foi sem duvida alguma o ápice da genialidade de Paulo Barros neste Carnaval. A artista que vestido em uma roupa especial multicolorida conseguia efeitos de sanfona aparecia vez ou outra de dentro de um gigantesco fole "oito baixos" foi sucesso entre o público que imediatamente começou a ovacionar a apresentação da Escola. É a tal "primeira impressão", algo que o Paulo Barros sabe fazer como poucos.

E uma coisa deve ser dita: como o carnavalesco sensação do Carnaval carioca melhorou nos quesitos artisticos. As alegorias que eram uma deficiência clara do artista hoje são muito regulares e com um acabamento muito bem elaborado. O carro abre-alas seguiu a sua linha de apresentação do enredo, com um aéroporto trazendo todos os reis que desembarcavam no nordeste para a coroação do Gonzagão. Estiveram presentes desde a Rainha da Inglaterra até o Rei do Pop (Michael Jackson), a Rainha do Deserto (Priscila) e o Rei Leão. Só poderia ser obra de um gênio como o Paulo Barros. Se uns gostam, outros detestam, mas faz parte. Eu gosto. Acho interessante essa "sacudida" que ele deu na mesmisse que vinha se transformando o desfile das Escolas de Samba.

Algumas alegorias estavam muito bonitas, como por exemplo a "Missa do Vaqueiro", com as várias esculturas de gado e também o carro do "Grande Mercado", com a representação dos bonecos de barro, tradição folclórica do nordeste brasileiro.

As fantasias da Unidos da Tijuca também mereceram destaque. Alas como "Cana de Açucar" e o "Vaqueiro" provam o crescimento artistico do carnavalesco, que passou a investir em figurinos mais elaborados e com melhor acabamento. As composições das alegorias, uma das grandes marcas da agremiação (caracterização de personagens) também vem sendo aprimorada a cada ano, com um verdadeiro show de maquiagem e expressões corporais.

O samba de enredo que embalou o desfile campeão, de autoria da parceria de Josemar Manfredini e cia. honrou as tradições e foi muito bem defendido pelo intérprete Bruno Ribas. De letra sintética e melodia valente, a obra conta ainda com trechos muito interessantes como "Vejo a realeza encantada/Com as belezas do sertão", "Chuva, Sol, meu olhar/Brilhou em terra distante/Ai que visão deslumbrante, se avexe, não!" e "Simbora que a noite já vem, 'saudades do meu São João'/Respeita véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só". É sem dúvida um dos melhores sambas da Unidos da Tijuca desde "O Dono da Terra".

A bateria do mestre Casagrande é de uma regularidade impressionante. A "Pura Cadência" tem uma pegada inconfundível e o toque das caixas é o grande diferencial. À frente da ala, a beleza de Gracyanne Barbosa (para alguns musculosa demais, porém, uma bela mulher) complementa a exibição.

Na defesa do Pavilhão tijucano, a garra e a beleza de Marquinhos e Giovanna, um dos melhores casais de mestre-sala e porta-bandeira da atualidade. Os dois são crias da Mangueira e defenderam o Pavilhão Verde e Rosa por mais de uma década, antes de serem enxotados da agremiação pelo Sr. Ivo Meirelles em 2009. O casal se identificou de tal forma com a Unidos da Tijuca que hoje em dia, não deixa saudades dos ícones Rogerinho e Lucinha, que deixaram a agremiação também em 2009.

A única ressalva que faço quanto ao desfile fica por conta da última alegoria que ao meu ver deixou muito a desejar. O guindaste que elevava o sósia de Luiz Gonzaga estava aparente e o acabamento de todo o carro foi irregular. Um deslize que muitas vezes acaba por prejudicar todo um trabalho, o que não foi o caso.

Assim, a Unidos da Tijuca conquistou o campeonato de 2012. Não era (e talvez nem seja) unanimidade entre os sambistas, mas com um desfile técnico e com a marca de seu carnavalesco, superou a emoção da Vila Isabel e a beleza do Salgueiro para levantar o troféu de grañde campeã.

Nem é preciso dizer que a equipe de carnaval está mantida para 2013. Paulo Barros vem dando algumas indiretas sobre o enredo que escolheu para tentar o bi-campeonato, mas ainda é um "segredo" para todos.

Resta saber uma coisa: quem pode parar essa "nova" Unidos da Tijuca, a grande potência do Carnaval carioca desta década?

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