quarta-feira, 28 de setembro de 2011

1998: A hora de juntar os "cacos"

Passados os problemas ocorridos para a realização do Carnaval de 1997, a Prefeitura Muncipal de Bragança Paulista e a Secretária de Cultura e Turismo, resolveram traçar juntamente com as Escolas de Samba, um projeto bem detalhado para que em 1998, as festividades voltassem a ter o brilho dos anos anteriores.

Algumas agremiações, ainda temerosas após os últimos acontecimentos, optaram por não desfilares, entre elas a Nove de Julho e a Unidos do Lavapés, simplesmente as duas Escolas de Samba mais tradicionais da cidade. A hipótese de um grupo único para os desfiles, assim como em 1997 não estava descartado, entretanto, por decisão das próprias entidades carnavalescas, ficou estabelecido que os Grupos I e II, voltariam a existir, sendo assim, a Caprichosos Saada e a Império Jovem, desfilariam em busca do acesso, enquanto que a União do Lago, campeã do Grupo II em 1996, a Dragão Imperial e a Acadêmicos da Vila, iriam compor a Elite do samba bragantino.

No entanto, a exatos 18 dias do Carnaval, a Unidos do Lavapés que havia convocado uma assembléia que elegeu Nilton José de Moraes como o seu novo presidente, manifestava o interesse de desfilar. Sendo assim, em apenas 15 dias de trabalhos a Escola apresentou a maior prova de superação da história do nosso Carnaval.

No domingo, dia 22 de fevereiro, uma fina, porém insistente chuva caiu em Bragança Paulista durante quase todo o dia. Entretanto, por volta das 18:00 h. o tempo estabilizou e a noite do desfile das grandes Escolas de Samba foi sob um lindo céu estrelado.

G.E.R. UNIÃO DO LAGO

Com um atraso de aproximadamente 20 minutos devido a problemas para posicionar alguns destaques do grande carro abre-alas da Escola, a União do Lago deu início ao desfile do Grupo I apresentando o enredo "O Melhor da Raça, o Melhor do Carnaval", do carnavalesco Marco Aurélio Lisa. Debutando entre as grandes Escolas, a Tricolor da Zona Sul apresentou um visual simples porém de muito efeito. A opção do carnavalesco por materiais baratos como a palha, o capim desfiado e tingido e a ráfia, proporcionaram a União um visual que lembrava o efeito Kizomba, da Vila Isabel, de 1988. Desfilando com aproximadamente 400 componentes, a Escola fez um desfile um tanto quanto acelerado, talvés com medo de enfrentar problemas com as suas alegorias em função da chuva que caiu durante toda a tarde e acabou prejudicando as alegorias na área de concentração. O samba enredo interpretado por Adriano Pinheiro e a bateria comandada pelo méstre Gui, passaram sem comprometer. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, João Luis e Zuleika também deu conta do recado e colaborou para a boa exibição da União do Lago no Carnaval de 1998.

G.R.F.S. DRAGÃO IMPERIAL

Empolagados pelo sucesso de seus ensaios, a Dragão Imperial apostou na sorte e com o enredo "Crer ou Não Crer, Eis a Superstição", da dupla Denise Almeida e Roseli Zanini, tentava transpor a barreira da 4° colocação que insistia em perseguir a Escola. Abrindo seu desfile com uma impecável comissão de frente representando magos, o tom mais luxuoso que acompanharia a agremiação ao longo de toda a sua apresentação já dava as caras. Na sequência, o carro abre-alas com o Dragão estilizado de vidente consultando uma bola de cristal toda de neon deu o toque de bom humor que o enredo pedia. As primeiras alas fizeram referencia aos mais diversos amuletos da sorte, como o trevo de quatro folhas, o pé de coelho, a figa, a ferradura, entre outros. A alegoria do setor era uma mistura de todos esses elementos. Na sequência, a sorte foi abordada de maneira bastante lúdica, com alusões ao dinheiro, ao sucesso e ao exoterismo. Uma grande alegoria representando um caldeirão de bruxas foi mais um dos bons momentos do desfile da azul e rosa. Vale destacar também a enorme comunicação com o público que a Dragão Imperial alcançou com este desfile. O samba enredo, de letra fácil e melodia bastante intuitiva estava na boca do povo, porém, a sua qualidade era um tanto quanto discutível. Ao final da sua apresentação, a Escola ousou consultar os astros e perguntar se seria campeã do Carnaval. Com mais uma simpática apresentação (a melhor de sua história até então), a Dragão Imperial saiu da avenida com a certeza de que estava brigando sériamente pelo título com o qual tanto sonhavam.

G.R.E.S. UNIDOS DO LAVAPÉS

O público que lotava as arquibancadas da Passarela Chico Zamper esperava anciosamente pelas duas últimas Escolas que desfilariam na noite de domingo. Quando a Unidos do Lavapés foi anunciada pelo sistema de som do sambódromo a euforia foi geral. Apresentando o enredo "Deu a Louca na Águia", do carnavalesco José Rabello, a verde e rosa abordou uma viagem imaginária de um carnavalesco rumo ao seu desfile ideal. O enredo, confuso a primeira vista, serviria para anunciar o que estava por vir em 1999. Ou seja, a Lavapés ousou em levar para a avenida ema sequência. O desfile que iria abordar de tudo um pouco que se passa na cabeça de quem consebe um Carnaval, teve início com uma bela comissão de frente com 12 mulheres representando o Cortejo de Momo. O carro abre-alas, trazendo a Águia, simbolo da Escola saindo do seu pavilhão, teve Nathalia de Oliveira como destaque principal vestindo uma fantasia monumental toda em verde e rosa com detalhes em dourado. Logo em seguida surgiram vários tripés trazendo o imaginário infantil, com doces, brinquedos e palhaços, aliás, uma grande ala de crianças vestida de simpáticos palhacinhos veio a frente do carro que representava o Mundo Mágico do Círco. Depois, o carnavalesco viajou por locais frequêntemente visitados pelos artistas da folia, como a África, a Grécia, e China e o Egito. No final do desfile, uma alegoria muito original representando o Bug do Milênio dizia que "Não deu para chegar na China... falhou o computador", frase essa que também estava no samba enredo de autoria de Gera da Cuíca, Val do Cavaco e Carlão, defendido na avenida pelo intérprete Sérjão. A bateria do méstre Gui (César Augusto Oliveira) vestida de Arlequins do 3° Milênio teve momentos de explosão como a muito não se via. O desfile feito às pressas acabou coroando uma diretoria competente que tentava se reestruturar rumo ao grande projeto que envolvia o Carnaval de 1999. Deixou a avenida sob os gritos de "é campeã".

G.R.C.E.S. ACADÊMICOS DA VILA

Para encerrar o desfile, a campeã de 1996. "O Poder da Criação - A Mágia da Vida" foi o enredo que o carnavalesco Jeferson Pistorezi escolheu para tentar o bi-campeonato para a Escola de Vila Aparecida. Contando com o samba mais popular do ano, no qual o refrão "Gira o Mundo, o Mundo gira, na palma da sua mão/Na cadencia deste samba recebi o seu perdão" estava na boca do povo, a Escola trouxe em sua comissão de frente as musas da criação. A primeira alegoria ilustrava o enredo perfeitamente, com uma grande mão segurando o Mundo. As primeiras alas fizeram alusão ao dia e a noite, seguidas por um grande carro que trazia a terra nua. Os dias da criação eram abordados de maneira cronológica, assim como descritos na Bíblia. A bateria, representando os seres aquáticos veio no setor referente a criação do 3° dia. A bateria da Vila, agora sob o comando de Ubirajara Guerra, o Bira, manteve a qualidade e a pegada dos últimos anos e sustentou brilhantemente a passagem dos mais de 700 componentes da Escola. O último carro, que trazia a expulsão de Adão e Eva do paraíso tinha como estrutura central um gigantesco portão dourado guardado por um anjo. Na parte traseira da alegoria, um caminho aberto apontava que à partir daquele momento o homem deveria viver por sí próprio, dando uma bonita mensagem de esperança a humanidade. Com mais um bonito desfile, a Acadêmicos da Vila foi outra Escola a ouvir os gritos de "campeã" vindos do público.

Na quarta-feira, 25 de fevereiro, a apuração realizada no pátio do batalhão da polícia militar situado na Avenida José Gomes da Rocha Leal, acabou coroando a Acadêmicos da Vila com o bi-campeonato. No entanto, uma confusão na leitura das notas e no não julgamento de um recurso contra a Dragão Imperial por exceder o número de carros alegóricos, deixou em aberto o vice-campeonato.

Na somatória geral das notas a azul e rosa terminou meio ponto a frente da Unidos do Lavapés, que inconformada com a não penalização da rival, ameaçou entrar na justiça. Assim, ambas se consideram vice-campeãs do carnaval de 1998.

Com apenas duas notas 10, a União do Lago foi a última colocada e assim, retornava ao Grupo II.

O resultado final do Carnaval de 1998 foi o seguinte:

1° Acadêmicos da Vila - 269,5 pontos ;
2° Dragão Imperial - 264;
3° Unidos do Lavapés - 263,5;
4° União do Lago - 238;

O desfile do Grupo II, por contar com apenas duas agremiações não foi avaliado e assim, não haveria acesso. A Nove de Julho e a Mocidade Júlio Mesquita (que já haviam manifestado interesse de retornarem em 1999), voltariam automáticamente ao Grupo I. Logo após os desfiles de 1998, Pé de Cana, Unidos do Parque e Uniformizada Guerreiros do Leão, enrolavam o pavilhão definitivamente.

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