quinta-feira, 22 de setembro de 2011

1995: Investimento pesado e o início da grande virada

O cabeçalho do suplemento especial do Bragança Jornal Diário, do dia 25 de fevereiro de 1995, antevia o grande espetáculo que seria apresentado logo mais a noite na Passarela Chico Zamper, o popular "Nicolódromo", apelido carinhoso dado ao sambódromo em homenágem ao ex-prefeito Nicola Cortez, idealizador do projeto, pelas Escolas de Samba de Bragança Paulista.

"De todas as cidades que compõe a região bragantina, Bragança Paulista é a que mais se preocupou com o reinado de Momo em 1995. Enquanto o carnaval de rua desaparece na maioria das cidades vizinhas, a Prefeitura de Bragança, aliada a Secretária de Cultura e Turismo, apesar de todas as dificuldades financeiras do Poder Público na atualidade conseguiu dar total infra-estrutura para a realização de um grande desfile, com início hoje, na Passarela Chico Zamper. A passarela está pronta para receber o público e os foliões. Além da arquibancada de concreto já existente no local, outra metálica de grande porte foi montada na passarela, além dos camarotes..."

Como podem ver, a espectativa em torno do evento era grande.

Os desfiles que começaram no sábado (25), com as Escolas de Samba do Grupo II, já deram uma prévia do que viria pela frente no desfile das chamadas grandes Escolas.

No domingo, por volta das 19:00 h. grande parte das arquibancadas do sambódromo já se encontravam lotadas. O desfile que estavam previstos para terem início às 20:00 h. sofreu um atraso de cerca de 40 minutos (pouco tempo para a época), devido a problemas enfrentados pela primeira Escola da noite na área de concentração, realizada em uma faixa estreita e com pouca iluminação na avenida dos Imigrantes.

Às 20:45 h. Bragança começou a assistir aquele que seria o divisor de águas na história do seu Carnaval.

G.R.C.E.S. PÉ DE CANA

A grande campeã do Grupo II em 1994 não se intimidou com a Elite do samba bragantino e apostou em uma linha mais tradicional para contar a saga do Carnaval com o enredo "Da Origem ao Apogeu", uma criação do carnavalesco Paulo Antônio Loriano. Trabalhando o desenvolvimento do enredo de maneira bastante didática e sem o mesmo luxo de outras Escolas, a Verde e Branco do Taboão se apresentou de maneira bastante correta, não cometendo nenhuma grande falha. Também não chegou a empolgar o público. Os melhores momentos na passagem da agremiação se deram com a apresentação de sua comissão de frente, composta por 12 belas mulheres e no bailar excepcional do casal de mestre-sala e porta-bandeira Tico e Ana. A bateria da Pé de Cana, dirigida por méstre Dila, a primeira mulher a dirigir uma bateria em Bragança Paulista passou "reta", sem fazer nenhuma bossa ou paradinha, porém, sustentando o desfile do início ao fim. A parte artistica da agremiação mostrou que a falta de recursos foi determinante nos quesitos fantasias e alegorias. Por mais que a idéia fosse muito boa, era visível que faltou dinheiro. A opção do carnavalesco pela utilização de adereços de mão em diversas alas compensou a pobreza de alguns figurinos. Vale destacar também a boa atuação do intérprete Clodoaldo, que cantou o longo samba da agremiação sem a presença de um cavaquinho no carro de som. Apesar de alguns bons momentos, a Pé de Cana não evoluiu bem e terminou seu desfile com dúvidas sobre qual grupo desfilaria no ano seguinte.

G.R.C.E.S. ACADÊMICOS DA VILA

Uma queima de fogos de mais de cinco minutos anunciava que a briga pelo título teria início com a passagem da campeoníssima Acadêmicos da Vila. A Azul e Branco vivia um bom momento e se estruturava para emplacar uma sequência de conquistas impressionante em um futuro bem próximo. Desfilando com aproximadamente 800 componentes, a Escola apresentou o enredo "Unidos do Pau Brasil", de autoria da dupla Néinha e Pudim, e contava de maneira bem humorada o descobrimento do Brasil. A dupla de carnavalescos investiu no brilho das fantasias e na grandiosidade dos carros alegóricos. Assim que a luxuosa comissão de frente dispontou no sambódromo apresentando 10 damas da corte portuguêsa maravilhosamente bem vestidas, o público foi ao delírio e cantou empolgado o belíssimo samba da parceria de Foguinho e Zuza. O carro abre-alas, uma grande caravela trazia o destaque Noy Camilo com uma linda fantasia em tons de amarelo e laranja representando o Sol das américas. Daí por diante o que se viu foram alas representando indios, portuguêses, a fauna, a flora e a chegada do negro africano. Vale ressaltar que no setor que trazia a influência africana no folclóre brasileiro, desfilaram alas reproduzindo ilustrações de Debret, importante pintor francês que foi tema da quarta alegoria da Escola. O desfile seguiu em grande estilo contando então a chegada do intrudo ao Brasil e por final, presetando uma bela homenagem a Pixinguinha. Infelizmente, os jurados não entenderam a proposta do enredo da Escola. Mas fica registrado um dos mais belos momentos da história do Carnaval bragantino com a passagem da Acadêmicos da Vila em 1995.

G.R.C.E.S. NOVE DE JULHO

"Sem Você Não Vivo". Com este enredo do carnavalesco Tito Arantes Filho, a Vermelho e Branco entrava na avenida disposta a conquistar o bi-campeonato após a brilhante vitória de 1994. Narrando na Passarela Chico Zamper as grandes paixões do brasileiro, a Nove de Julho investiu cerca de 55 mil reais na confecção do seu Carnaval, valor esse considerado absurdo para a época. Porém, todo o inverstimento se justificava logo na passagem dos primeiros elementos de desfile. A comissão de frente desfilou soberana com fantasias alusivas a paixão. O abre-alas trazia o titulo do enredo e mostrava grandes esculturas femininas trazendo em suas mãos corações com o nome da Escola. As primeiras alas representavam o homem e a mulher e levavam para o carro do Carnaval, com a figura do Rei Momo e belas destaques representando "arlequinas". Nada do cotidiano brasileiro ficou de fora do enredo de Tito Arantes. O futebol, a cerveja, a caipirinha, as comidas típicas, o sexo, tudo estava lá. A Nove de Julho apresentou uma sequência irreprensível de alegorias e fantasias em sua passagem. Isso foi determinante para o grito de "é campeã" ser ouvido pela primeira vez na noite de domingo. A bateria de méstre Clay foi um show à parte. O samba enredo, de autoria de Alemão do Cavaco e interpretado por Xuxa não era dos melhores, mas cresceu absurdamente na avenida e embalou seus componentes que cantaram a plenos pulmões durante toda sua passagem. Após a passagem da última alegoria, a velha guarda da Escola prestava uma homenagem a Zinho Pugiolli, ex-presidente da agremiação falecido no final de 1994. Com a passagem da Nove de Julho, uma certeza ficou: o sonho do bi-campeonato estava mais vivo do que nunca.

G.R.F.S. DRAGÃO IMPERIAL

Desfilando pelo terceiro ano entre as grandes Escolas de Samba de Bragança Paulista, a Dragão Imperial vinha disposta a furar a barreira que existia entre as três agremiações mais antigas da cidade: Unidos do Lavapés, Nove de Julho e Acadêmicos da Vila. O enredo "Confete, Saudade Colorida" era de autoria de Pedro Luis Pinotti e falava sobre as mais famosas marchinhas de Carnaval. Um enredo bastante leve que proporcionou a Escola um desfile animado e de fácil entendimento. Marchinhas famosas como "Jardineira", "Mamãe eu Quero", "Cachaça", "Pierrô Apaixonado", "Chiquita Bacana", "Seu Condutor", entre outras foram lembradas pelo carnavalesco que optou por alegorias pequenas e fantasias multicoloridas. Tudo na Dragão transmitia vida e era absolutamente jovial. O samba de Marcio do Cavaco, Zulo, Luis Carlos Genardão e Edison era sem duvidas o melhor do ano, o que provocou uma reação das mais animadas da platéia. vale destacar a boa performance do intérprete Cássio Imperial. A bateria de méstre Itamar deu show. Um momento marcante desse desfile sem duvida nenhuma fica por conta de uma alegoria que representava um bonde. Nela, vários casais vinham vestidos como nas décadas de 40 e 50 e atiravam confete e serpentina no público que respondia entoando o samba com muita empolgação. O desfile se encerrou com a lembrança dos antigos carnavais, através de fantasias muito bonitas e de uma alegoria que trazia a figura de Carmem Miranda, reproduzida em uma bela escultura feita pelo escultor Delmer Thiago. Com tanta empolgação, a Dragão Imperial deixou a passarela na certeza de que havia cumprido o seu papel.

G.R.E.S. UNIDOS DO LAVAPÉS

Passava da 01:00 h. quando uma outra grande quima de fogos anunciou a entrada da mais tradicional Escola de Samba de Bragança Paulista: a Unidos do Lavapés. Vindo de um título (1993) e um vice-campeonato (1994), a Verde e Rosa tinha tudo para viver um bom momento. Porém, como nada é fácil pelos lados do Lavapés, a falta de sintonia entre a velha guarda da agremiação e seus jovens talentos fez com que a presidente Cleide Rodrigues renunciasse em setembro de 1994. Daí até o final de dezembro, arrastousse uma briga pela presidencia que culminou em uma junta administrativa encabeçada por Gilson Alves, ex-mestre-sala da agremiação e um nome considerado de consiliação entre os dois lados. Tentando sair dessa crise, a Escola apostou em uma temática leve e fácil de se trabalhar: o circo. O enredo "Circo, o Maior Espetáculo da Terra", foi desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Martins. Quando o bonito abre-alas representando o Coliseu romano começou a se movimentar, o público se empolgou e começou a cantar o samba da dupla Luis Carlos e Alessandra magistralmente defendido por Sérjão. A Escola apresentou em suas alegorias soluções simples, porém de grande efeito. O carro que representava a China, por exemplo, tinha destaques luxuosíssimos e um colorido fantástico. Compondo o visual da Lavapés estavam alas vestidas de toureiros, bobos da corte, nobres europeus, palhaços, mágicos e bailarinas. No último setor, uma ala com cerca de 80 crianças representava os animais do circo e antecederam ao carro do picadeiro, com esculturas referentes ao leão, ao elefante e ao macaco. A alegoria encerrou um desfile que por incrível que pareça bateu de frente com o luxuoso desfile da Nove de Julho e credenciou a Unidos do Lavapés a disputar o título cabeça a cabeça com a sua tradicional rival.

Com cinco Estandartes de Ouro conquistados, a Nove de Julho era apontada como a grande favorita, porém, todos sabiam que a Unidos do Lavapés estava no páreo, assim como a Acadêmicos da Vila, que corria por fora.

Na apuração as surpresas iam acontecendo, como por exemplo, notas 6 e 7 em evolução para a Nove de Julho e a Unidos do Lavapés respectivamente, ou ainda a inexplicável nota 6 atribuída ao casal de mestre-sala e porta-bandeira da Pé de Cana, que saiu aclamado como o melhor do Grupo I. Em determinado momento, a Dragão Imperial equilibrava a disputa com as demais e chegou a encostar na Nove de Julho, que perdia pontos preciosos em evolução e melodia. Nessa hora, Unidos do Lavapés e Acadêmicos da Vila lideravam a apuração. No final da apuração, os quesitos plásticos fizeram a diferença a favor da Nove de Julho que arrebatou nota máxima em alegoria e cinco notas 10 e um 9 em fantasia.

Para a alegria da nação Vermelho e Branco, a Nove de Julho chegava a seu oitavo título, um dos mais justos da história, diga-se de passagem.

O resultado oficial foi o seguinte:

Nove de Julho - 294 pontos;
Unidos do Lavapés - 289;
Acadêmicos da Vila - 289;
Dragão Imperial - 280;
Pé de Cana - 237.

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