terça-feira, 27 de setembro de 2011

1997: O ano da regressão

Com o sucesso alcançado pelas Escolas de Samba nos desfiles de 1996, imaginava-se que os anos que viriam, poderiam representar um salto ainda maior na qualidade do Carnaval de Bragança Paulista.

A maioria das agremiações estavam se profissionalizando e investindo cada vez mais na parte plástica dos desfiles. Por esse motivo, Bragança já era reconhecida a nível Nacional como um dos melhores carnavais de rua do país.

Porém, para a tristeza daqueles que amam o Carnaval, em um ano de contenção de despesas da Prefeitura Municipal e das constantes votações interrompidas na Câmara dos Vereadores, o então prefeito José de Lima, decidiu não repassar a subvenção destinada às Escolas de Samba, e investir cerca de 30% do que era movimentado nos anos anteriores em um Carnaval pequeno e sem o desfile oficial.

A notícia, como podem imaginar caiu como uma bomba no mundo do samba. As agremiações se desesperaram e temeram o pior. Claro que naquele momento muito já se especulava a respeito do que seria o Carnaval de Bragança Paulista dalí por diante.

Mas como o Samba é feito da persistência e da paixão de verdadeiros abinegados, a Acadêmicos da Vila, por meio de seu então presidente Edison Aparecido da Silva Pinheiro, o Edison Português, decidiu que mesmo sem o dinheiro da Prefeitura iria desfilar. Com o comunicado oficial da atual campeã do Carnaval bragantino, outras Escolas se empolgaram e resolveram seguir o exemplo da azul e branco e fazer um espetáculo para o povo.

Com essa decisão, a Prefeitura se viu em um verdadeiro "mato sem cachorro". Afinal, com a adesão de algumas Escolas de Samba, o povo teria o seu tradicional desfile, porém, não contaria com a estrutura do sambódromo, que vinha crescendo a cada ano. Foi aí, que em uma atitude louvável do prefeito, uma sessão extraordinária da Câmara aprovou um orçamento extra para o Carnaval, e um lance de arquibancadas metálicas foi montado na "reta" da Passarela Chico Zamper. A estrutura, embora mais acanhada que a dos últimos anos, comportaria cerca de 20 mil pessoas que mesmo sabendo das dificuldades das agremiações para prepararem aquele Carnaval, não deixaram um momento sequer de apoiar e vibrar com a sua Escola do coração.

O desfile que contou com um Grupo Único, sem avaliação, reuniu 4 agremiações que mesmo com todos os problemas, fizeram um bonito espetáculo para brindar e agradecer o público por todo o apoio e carinho.

CAPRICHOSOS SAADA

A agremiação que fez a sua estréia no Carnaval bragantino em 1996, voltava a desfilar em 1997 com a mesma garra e organização que a caracterizou em seu primeiro ano de avenida. Voltando a apresentar o enredo "Olinda, Festas, Costumes e Tradições", do carnavalesco Noy Camilo, a Caprichosos reutilizou várias fantasias e alegorias do ano anterior. Os quase 300 componentes da azul e verde do bairro Uberaba, desfilavam sem maiores compromissos com evolução e harmonia, realizando assim um desfile solto e alegre. O carro abre-alas, que trazia a escultura de um grande anjo dourado, foi ornamentado com delicadas rosas de eva, que deram um multicolorido especial a alegoria. Não faltaram alas fazendo referência a religiosidade, as festas típicas de Pernambuco e principalmente ao Carnaval de Olínda, com a presença dos bonecões e de uma grande ala representando o Galo da Madrugada. O final do desfile foi uma verdadeira festa. O que fez da passagem da Caprichosos uma das mais agradáveis do ano.

MOCIDADE INDEPENDENTE JÚLIO MESQUITA

Após o magnífico desfile apresentado em 1996, a Mocidade voltou a deixar uma boa impressão ao levar para a Passarela Chico Zamper um contingente de mais de 400 desfilantes em um ano de orçamento redusido e pouca mídia. Desfilando com o enredo "Sanduíche da Vida", de autoria de Antônio Mieli, a Mocidade contou a história do sanduíche. Mesmo desfilando com fantasias simples e com alegorias pequenas, o visual apresentado foi muito bem desenvolvido. A predominancia das cores da agremiação (preto, branco e pink), deu a Escola um apecto psicodélico, o que colaborou muito para o bom andamento do desfile. O samba enredo de autoria do compositor Sodinha, era animado e bastante descritivo. A bateria, comandada pela última vez pelo excelente Milton Carioca desfilou com a fantasia inspirada nos donos de bares e explodiu o público com aquela que fora apontada como a melhor apresentação da noite. No final do desfile, uma ala com 40 graçonetes fez muito marmanjo literalmente ficar de pé. Era a consolidação da Mocidade no cenário carnavalesco de Bragança Paulista.

DRAGÃO IMPERIAL

Levantando a bandeira do bom humor, a Dragão Imperial foi outra Escola a apresentar o mesmo tema que havia levado para a avenida em 1996. Rebatizado de "Água Que Pássarinho Não Bebe II: A Missão", a azul e rosa fez um desfile mais solto que no ano anterior, porém, com um visual mais simplório. A maioria das alas trouxeram as fantasias de 1996, porém, com algumas pequenas modificações. O carro abre-alas que trazia o dragão, simbolo da Escola apresentou destaques de composições bem realizados e harmoniosos. Sem se preocupar com o tempo de desfile, a Dragão foi a Escola que mais estendeu a sua apresentação, ficando na passarela por quase 70 minutos. Os componentes brincaram o Carnaval como nos velhos tempos, fazendo um clima de nostalgia imperar entre o público presente. Neste sentido, a passagem da Família Imperial (como a Escola é conhecida) foi marcante.

ACADÊMICOS DA VILA

Era por volta de 23:00 h. quando o imponente abre-alas da atual campeã do Carnaval começou a se movimentar na concentração. Com o enredo "A Mágia das Máscaras", da dupla Neinha e Pudim, a Vila não parecia ter sido afetada pelos problemas finânceiros que haviam assolado a cidade em meio a preparação das Escolas. Com a sua tradicional comissão de frente composta por belas mulheres, a azul e branco lembrou Veneza e os seus suntuosos bailes de máscatas no início de sua apresentação. O carro abre-alas, trazia a representação do enredo em estruturas contornadas por vários metros de neon azul. As primeiras alas da Escola se apresentaram de maneira impecável, com figurinos que pareciam ter acabado de ficarem prontos. No entanto, com o andamento do desfile, ficou evidente que o dinheiro acabou faltando. O casal de méstre-sala e porta-bandeira Bozó e Gí, fez uma das melhores apresentações que eu particularmente já vi. Na sequência, a bateria de méstre Claudinho Português ousou em convenções e paradinhas muito bem realizadas, o que sacudiu a avenida. O samba puxado por Dú Melancia e João Magrini também é digno de elogios. No último carro, o pavão, simbolo da Escola surgiu com as máscaras do teatro rodeado por destaques que lembravam as vedetes da época de ouro das revistas. Era sem sombra de dúvidas o melhor desfile da noite. O mesmo, acabou aclamado como o campeão em um ano onde o resultado era apenas simbólico, assim como todo o resto.

Como não houve apuração, uma espécie de mesa redonda com os presidentes, carnavalescos, intérpretes, diretores de bateria e casais de mestres-salas e porta-bandeiras foi formada pelo radialista Juarez Sérgio em seu programa matinal na rádio FM 102,1 onde foi discutido os desfiles de 1997 e os rumos do Carnaval em Bragança.

Por meio de pesquisa popular, o público em geral acabou escolhendo a sua classificação final.

Eis o resultado da pesquisa popular:

1° Acadêmicos da Vila;
2° Dragão Imperial;
3° Mocidade Independente;
4° Caprichosos Saada.

O que fica de positivo em um ano que foi considerado um regresso na história do Carnaval de Bragança Paulista, é a integração entre o público e as Escolas de Samba e a paixão do sambista em driblar as dificuldades e defender o seu pavilhão amado mesmo nas horas mais difíceis. É por essas e outras que o samba é algo tão apaixonante!!!

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