Enredo: "Você Semba lá... Que eu Sambo cá! O Canto Livre de Angola"
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Com um enredo que já vem namorando a um certo tempo, a Unidos de Vila Isabel se inspirou nas cores, nos ritmos e na força do povo angolano na busca pelo seu terceiro título no Grupo Especial. A temática não é inédita (em São Paulo a Tom Maior falou sobre Angola em 2009) mas com tanta história e curiosidades acerca desse simpático país africano a Azul e Branco poderá fazer um desfile totalmente original. É claro que o talento e o indiscutível bom gosto da carnavalesca Rosa Magalhães faz a diferença à favor da Escola. Na escolha desse enredo pesou também uma homenagem a Martinho da Vila, presidente de honra da agremiação e que leva o bairro de Nöel em seu nome. Uma curiosidade interessante sobre Martinho é que ele seria o homenageado da Escola em 2010, ano do centenário de Nöel Rosa, porém, o mesmo recusou a homenagem apresentando a diretoria um enredo sobre o poeta de Vila Isabel. Particularmente é um desfile que eu aguardo com muita expectativa. Mais uma vez briga ferozmente pelo título.
Em um ano de boa safra, o samba enredo da Vila se destaca positivamente e só não pode ser considerado o melhor do CD pelo fato de termos uma obra fora de série apresentada pela Portela. É incrível como a parceria de André Diniz e Evandro Bocão (este ano com a valoroza colaboração de Arlindo Cruz) tem o dom de presentear a Unidos de Vila Isabel com grandes sambas de enredo. Em uma rápida retrospectiva, lembramos com entusiasmo de 1994 (Muito Prazer! Isabel de Bragança e Drummond Rosa da Silva mas Pode me Chamar de Vila), 2004 (A Vila é Para Ti), 2005 (Singrando os Mares e Construindo o Futuro), 2006 (Soy Loco Por Ti, América - A Vila Canta a Latinidade), 2009 (Neste Palco da Folia, é Minha Vila que Anuncia: Theatro Municipal - A Centenária Maravilha) e 2011 (Mitos e Histórias Entrelaçadas Pelos Fios de Cabelo). Todas essas, composições de sucesso e extrema qualidade de Diniz e cia. A obra de 2012 possui uma estrutura melódica muito consistente e curiosamente a força maior do samba não está contida em seus refrões (também de qualidade). A espinha dorsal dessa obra é exatamente a sua "meiúca", onde podemos ver a explanação do enredo em versos longos e muito bem escritos. Vale à pena destacar o trecho "pergunta e resposta" na segunda metade do samba. Uma solução muito boa e bem executada na gravação do CD pelo intérprete Tinga e pelo coral da comunidade do Morro dos Macacos. Realmente, a Vila é detentora de um grande samba e que certamente irá embalar um desfile memorável. É aguardar pra ver.
Letra do Samba
Autores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Arthur das Ferragens
Intérprete: Tinga
Vibra, oh, minha Vila
A tua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à tua pulsação
Incorpora outra vez kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar
Reina, ginga, ê, matamba, vem ver
a Lua de Luanda nos guiar
Reina, ginga, ê, matamba, negra de zambi
sua terra é seu altar
Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de Angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
(Pelos terreiros) dança, jongo, capoeira
(Nascia o samba) ao sabor de um chorinho
Tia Ciata embalou
Nos braços de violões e cavaquinhos a tocar
(Nesse cortejo) a herança verdadeira
(A nossa Vila) agradece com carinho
Viva o povo de Angola e o negro rei Martinho
Semba de lá que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive (a Vila)
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