segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Unidos de Vila Isabel



Enredo: "Você Semba lá... Que eu Sambo cá! O Canto Livre de Angola"


Carnavalesca: Rosa Magalhães


Com um enredo que já vem namorando a um certo tempo, a Unidos de Vila Isabel se inspirou nas cores, nos ritmos e na força do povo angolano na busca pelo seu terceiro título no Grupo Especial. A temática não é inédita (em São Paulo a Tom Maior falou sobre Angola em 2009) mas com tanta história e curiosidades acerca desse simpático país africano a Azul e Branco poderá fazer um desfile totalmente original. É claro que o talento e o indiscutível bom gosto da carnavalesca Rosa Magalhães faz a diferença à favor da Escola. Na escolha desse enredo pesou também uma homenagem a Martinho da Vila, presidente de honra da agremiação e que leva o bairro de Nöel em seu nome. Uma curiosidade interessante sobre Martinho é que ele seria o homenageado da Escola em 2010, ano do centenário de Nöel Rosa, porém, o mesmo recusou a homenagem apresentando a diretoria um enredo sobre o poeta de Vila Isabel. Particularmente é um desfile que eu aguardo com muita expectativa. Mais uma vez briga ferozmente pelo título.


Em um ano de boa safra, o samba enredo da Vila se destaca positivamente e só não pode ser considerado o melhor do CD pelo fato de termos uma obra fora de série apresentada pela Portela. É incrível como a parceria de André Diniz e Evandro Bocão (este ano com a valoroza colaboração de Arlindo Cruz) tem o dom de presentear a Unidos de Vila Isabel com grandes sambas de enredo. Em uma rápida retrospectiva, lembramos com entusiasmo de 1994 (Muito Prazer! Isabel de Bragança e Drummond Rosa da Silva mas Pode me Chamar de Vila), 2004 (A Vila é Para Ti), 2005 (Singrando os Mares e Construindo o Futuro), 2006 (Soy Loco Por Ti, América - A Vila Canta a Latinidade), 2009 (Neste Palco da Folia, é Minha Vila que Anuncia: Theatro Municipal - A Centenária Maravilha) e 2011 (Mitos e Histórias Entrelaçadas Pelos Fios de Cabelo). Todas essas, composições de sucesso e extrema qualidade de Diniz e cia. A obra de 2012 possui uma estrutura melódica muito consistente e curiosamente a força maior do samba não está contida em seus refrões (também de qualidade). A espinha dorsal dessa obra é exatamente a sua "meiúca", onde podemos ver a explanação do enredo em versos longos e muito bem escritos. Vale à pena destacar o trecho "pergunta e resposta" na segunda metade do samba. Uma solução muito boa e bem executada na gravação do CD pelo intérprete Tinga e pelo coral da comunidade do Morro dos Macacos. Realmente, a Vila é detentora de um grande samba e que certamente irá embalar um desfile memorável. É aguardar pra ver.


Letra do Samba


Autores: Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Arthur das Ferragens

Intérprete: Tinga


Vibra, oh, minha Vila

A tua alma tem negra vocação

Somos a pura raiz do samba

Bate meu peito à tua pulsação

Incorpora outra vez kizomba e segue na missão

Tambor africano ecoando, solo feiticeiro

na cor da pele, o negro

Fogo aos olhos que invadem

Pra quem é de lá

Forja o orgulho, chama pra lutar


Reina, ginga, ê, matamba, vem ver

a Lua de Luanda nos guiar

Reina, ginga, ê, matamba, negra de zambi

sua terra é seu altar


Somos cultura que embarca

Navio negreiro, correntes da escravidão

Temos o sangue de Angola

Correndo na veia, luta e libertação

A saga de ancestrais

Que por aqui perpetuou

A fé, os rituais, um elo de amor

(Pelos terreiros) dança, jongo, capoeira

(Nascia o samba) ao sabor de um chorinho

Tia Ciata embalou

Nos braços de violões e cavaquinhos a tocar

(Nesse cortejo) a herança verdadeira

(A nossa Vila) agradece com carinho

Viva o povo de Angola e o negro rei Martinho


Semba de lá que eu sambo de cá

Já clareou o dia de paz

Vai ressoar o canto livre

Nos meus tambores, o sonho vive (a Vila)

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