Enredo: "Cordel Branco e Encarnado"
carnavalescos: Renato Lage e Marcia Lage
Mantenho-me irredutível no que disse assim que todos os enredos das agremiações do Grupo Especial foram lançados em uma breve análise dos mesmos: o Salgueiro tem o melhor enredo dentre as 13 agremiações que compõe a Elite do samba carioca. As possibilidades são infinitas e o requinte do mestre Renato Lage irá dar a este enredo um toque de classe que só os grandes craques do Carnaval podem conceber. Com a força da academia e o talento desse grande carnavalesco, a Vermelho e Branco se credencia ao título, o que já deveria ter acontecido em 2011, se não fossem os problemas enfrentados pela Escola em suas gigantescas alegorias.
O samba enredo escolhido para embalar o "Cordel Branco e Encarnado" é mais um dos bons sambas registrados no álbum de 2012. A composição vencedora é da parceria de Marcelo Motta, um compositor da nova geração que já tem algumas obras emplacadas na academia, porém, nenhuma como a deste ano. Mesmo não sendo nenhum clássico do porte de "Do Yorubá a Luz - A Auróra dos Deuses", o hino de 2012 tem lá os seus encantos. O primeiro ponto positivo que vale à pena ser destacado é a identificação entre o samba e a Escola, ou seja, tem a cara do Salgueiro. Sabe aquela história de que existem sambas que paressem que foram feitos para o intérprete (como muito acontecia na Mangueira na década de 90)? Pois é. Parece que Marcelo Morra e cia. pensaram no sr. Melquisedec Marins Marques, o Quinho no momento em que escreviam este samba. O refrão de cabeça é perfeito. Possui uma mescla de frases e bordões regionalistas e uma bela exaltação ao pavilhão "Branco e Encarnado" que certamente vai fazer transbordar de orgulho os corações salgueirenses. Aliás, as expressões típicamente nordestinas dominam a obra. Mesmo o enredo não seguindo uma cronologia específica, o samba não se perde em momento algum, dando a impressão de que o desfile será todo ele pontuado em cima dessa letra. Não faltam é claro citações ao livro "Carlos Magno e os 12 Pares de França", a obra Pavão Misterioso, o beato Antônio Conselheiro e a fé do povo nordestino personificada na figura mais marcante do povo do sertão, o "Padinho" Padre Cicero (Padin Ciço, como preferir). Sempre vibro ao ouvir o samba no trecho: "Vá de retro, sai, assombração/Volta pra ilusão do além/No repente do verso/O "bicho" perverso não pega ninguém/Oh! Meu "padinho" venha me abençoar/Meu santo é forte, desse "cão" vai me apartar/Quero chegar ao céu num sonho divinal.../É carnaval! É carnaval!". Acho simplesmente lindo. Juntamente com as obras da Portela, Imperatriz e Vila Isabel, faz parte da galeria de "notas 10" do CD.
PS: ao meu ver, a trinca de intérpretes do Salgueiro funcionou maravilhosamente bem. Muito superior a "embolada" da Mangueira.
Letra do Samba
Autores: Marcelo Motta, Tico do Gato, Ribeirinho, Dilson marimba, Domingos PS e Diego Tavares
Intérpretes: Quinho, Sérginho do Porto e Leonardo Bessa
Sou "cabra da peste"
Oh! Minha "fia" eu vim de longe pro Salgueiro
Em trovas, errante, guardei
Rainhas e reis, e até heróico bandoleiro
Na feira ví o meu reinado que surgia
Qual folhetim, mais um "cadim", vixe maria!
"Os doze do imperador"
Que conquistou o romanceiro popular
Viagem na barca, a ave encantada
Paixão que vence a lenda
Mistério pairando no ar
Cabra macho, justiceiro
Virgulino, é Lampião!
Salve, Antônio Conselheiro
O profeta do sertão
Vá de retro, sai assombração
Volta pra ilusão do além
No repente do verso
O "bicho" perverso, não pega ninguém
Oh! Meu "padinho", venha me abençoar
Meu santo é forte, desse "cão" vai me apartar
Quero chegar ao céu num sonho divinal...
É carnaval! É carnaval!
Salgueiro, seus trovadores são poetas da canção
Traz sua corte, é dia de coroação
Não se "avexe", não
Salgueiro é amor que mora no peito
Com todo respeito, o rei da folia
Eu sou o cordel branco e encarnado
"Danado" pra versar na Academia
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