segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Vem festejar na palma da mão..."

Tenho muitos amigos mangueirenses e já me indispus com a maioria, porém, deve-se salientar que a análise é meramente voltada ao que foi apresentado pela Escola na Marquês de Sapucaí em 2012, ok.

Desde que assumiu a presidencia da Mangueira em 2009, Ivo Meirelles optou pela linha de enredos autorais e culturais, um ponto super positivo, já que a maciça maioria das agremiações atualmente vem se "vendendo" por qualquer valor e pior, por qualquer enredo.

Entretanto, a música parece já estar se tornando cansativa até mesmo para os componentes da Verde e Rosa.

O enredo "Vem Festejar! Sou Cacique, sou Mangueira", de autoria do próprio Ivo e desenvolvido pelo carnavalesco Cid Carvalho não era bem o que a enorme nação mangueirense esperava para 2012, mas como sempre fez apoiou a sua diretoria e o seu carnavalesco.

Na escolha do samba, o alento, pois fora considerado desde então como um dos bons sambas deste Carnaval. E como o mangueirense gosta disso...

O desfile no entanto fora o relexo da atual Mangueira e de seu carnavalesco.

A abertura foi simplesmente grotesca. O coreógrafo Jaime Aroxa nunca foi uma unanimidade, mas vinha conseguindo a nota máxima até então. Mas o que ele e o Cid Carvalho prepararam para este ano beirou o ridiculo. As fantasias dos Orixás até que estavam bonitas, mas a coreografia (se é que ela existia) foi patética. Sem contar que em nenhum momento o grupo deixou o quadripé mal acabado que trazia a tamarineira, árvore simbolo do bairro de Ramos e um dos pilares do bloco Cacique de Ramos.

O carro abre-alas seguiu a linha do carnavalesco Cid Carvalho: cafona ao extremo. Assim como o Szaniecki havia feito em sua passagem pela Manga, Cid apostou em uma alegoria acoplada com dois carros distintos. A parte da frente trazia um enorme índio batucando seu tambor em meio a adereços plumários até que interessantes. Mas o fundo da alegoria, com a "maquete" do tal "Novo Palácio do Samba", outra das maluquices do Ivo Meirelles era a personificação do bizarro. Acabamento então... aff...

As demais alegorias não melhoraram muito, não. As excessões ficaram por conta do carro da carruagem eoutro todo em verde que além de boa idéia tinham bom acabamento. Já a última alegoria entitulada "Um Samba em Marte" voltou a beirar o ridículo. Um trabalho típico do Cid Carvalho.

As fantasias estavam mais bonitas. Apresentavam uma regularidade estética e cromática mais atraente e salvaram a velha Manga de uma apresentação toda desastrosa.

Alguns criticavam o saudoso Julio Mattos de ser cafona, de ser primário em suas criações e tal. Esses modinhas deveriam olhar um pouco mais para a história do Carnaval carioca e saudar um artista do nível do Julinho e pararam de exaltar Cid Carvalho, Cahê Rodrigues e tantos outros que por mais sejam bons carnavalescos, não tem a essência do Carnaval em suas veias.

Já no quesito samba de enredo, a Mangueira estava mais bem servida. Era um bom samba, mas outra das idéias malucas do Sr. Ivo Meirelles acabou por afastar mais uma tradição das Escolas de Samba. O que diria o mestre José Bispo Clementino dos Santos sobre a "pataquada" protagonizada por Dudu Nobre, Xande de Pilares, Sombrinha, Beth Carvalho, entre tantos outros em meio ao desfile em uma "mesa de bar" pra lá de duvidosa? E outra coisa: se não qeurem mais o Luizito como intérprete da Mangueira, despensem-o de uma vez e não o façam pagar um mico do tamanho do que ele teve de pagar este ano. Luizito que substituiu Jamelão com tanta competência à partir de 2007 está simplesmente jogado as traças na agremiação. Fora substituido por um bando de gente que sequer são melhores que ele. Uma pena, pois Luizito é um dos meus intérpretes favoritos dessa chamada nova geração (e olha que ele nem é tão novo assim).

A bateria da Mangueira, a tradicional "Mula Manca" também é outra que mudou muito na era Ivo Meirelles. Dona de um ritmo marcante e uma cadência incrivel, a ala outrora comandada por mestre Valdomiro, mestre Taranta, mestre Alcir Explosão e mestre Russo, hoje é mais do que adepta das paradinhas. Pior: faz paradonas. Algo que beira o ridiculo mas que leva Luiz Roberto e Glenda ao êxtase nas transmissões do desfile. A gente não merece isso...

Agora sim um quesito onde a Mangueira está bem servida, mestre-sala e porta-bandeira. Raphael e Marcela Alves não são brilhantes, mas são um casal de extrema competência e elegância. Marcela além de linda é uma porta-bandeira clássica, que baila com levesa e a dignidade de uma Mocinha. Já Raphael é um mestre-sala de maior versatilidade. Vai do clássico ao contemporâneo em poucos movimentos. Como disse, mesmo não sendo brilhantes merecem nota 10.

Como fica bem claro, a Mangueira não é mais a Verde e Rosa que conhecemos e muito disso se deve a administração atual. Mas tem tradição, tem nome e ainda tem o respeito do sambista. Isso é o que importa. E mais: tem uma comunidade apaixonada que a defende apesar de tudo. Quando teço calorosas criticas a Escola não faço isso por odiar a agremiação, ao contrário. Minha família é de mangueirenses e meu bisavô era apaixonado pela Verde e Rosa, tanto que ficou furioso quando eu me tornei Independente. Critico a atual administração da Mangueira porque quero voltar a ver a Manga como ela sempre foi.

As eleições da Escola que estavam marcadas para acontecerem esta semana foram adiadas por tempo indeterminado. A chapa encabeçada pelo atual presidente Ivo Meirelles concorre a re-eleição. Não tem mais o apoio maciço da comunidade, mas ainda é forte dentro do colégio eleitoral. Outras duas chapas concorrem ao pleito, uma delas é presidida por Percival Pires, o Perci, ex-presidente da agremiação e a outra pelo baluarte Raimundo de Castro. No momento, Percival Pires parece ser a melhor escolha.

Pelo momento da Mangueira ser de indefinições, não se pode cravar a permanência ou a saída de ninguem, mas se sabe que as situações de Jaime Aroxa e Cid Carvalho estão "na marca do penalti" e caso haja mudança na presidencia da Escola, ambos estariam fora. Comentou-se logo após o Carnaval que o intérprete Jamelão seria o enredo para 2013, mas também não se pode dar 100% de certeza de que assim será.

Como se vê, a Mangueira atual é isso, um mar de indefinições, amada e odiada e seguida por milhares de mangueirenses apaixonados.

"Muda Mangueira"!

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