segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Salgueiro é amor que mora no peito..."

Desde o início do desfile uma coisa ficou bem clara para mim: estava aí a única Escola que poderia ameaçar a soberania da Vila Isabel.

É incrível a regularidade da Acadêmicos do Salgueiro na gestão da Regina Celli. Salvo alguns problemas de organização no que diz respeito a concentração, a Vermelho e Branco esbanja requinte e bom gosto em seus desfiles. Aliado a isso, uma comunidade vibrante e interativa que dá show de raça e amor a sua agremiação.

Desfilando o criativo enredo "Cordel Branco e Encarnado" da dupla Renato e Márcia Lage, o Salgueiro foi a personificação da competência estética no Carnaval. Se não chegou a ser o melhor conjunto do ano, esteve bem próximo disso.

As tradicionais gravuras que ilustram os românces da Literatura de Cordel estiveram presentes desde a comissão de frente, que do meu ponto de vista foi uma das melhores de 2012. Simples, singela e com cara de Salgueiro, o que prezo muito para o grupo responsável pela abertura oficial do desfile.

Na sequência, o grandioso carro abre-alas trouxe a sintese do enredo com bonecos de barro, fitas coloridas e as tradicionais burrinhas das celebrações folclóricas regionais. Via-se por essa alegoria que oi tão criticado gigantismo de 2011 não abateu o genial Renato Lage, que em resposta aos criticos apresentou um conjunto alegórico ainda melhor que o do ano passado.

Alegorias como a do "Pavão Misterioso" deram imponência ao desfile da Acadêmia. O visual hig teach, marca registrada do carnavalesco nãoe steve tão escancarado como em outros anos, mas era presença constante nos carros alegóricos da agremiação que mais uma vez (que novidade!) deram um espetáculo sem precedentes no quesito iluminação. O único senão do quesito fica mais uma vez pela incompetência da equipe técnica de pista nas manobras dos carros na entrada da pista. Pelo quarto ano consecutivo alguns carros sofreram para fazer a curva de entrada da Marquês de Sapucaí. Nada comparado com o que houve em 2011, mas fica nítido que este é o calcanhar de Aquiles do atual Salgueiro.

No quesito fantasias, as criações do casal Lage mais uma vez estavam perfeitos tanto em idéia quanto em realização. A utilização das penas de pavão em várias fantasias deram um clima de nostalgia a apresentação da Vermelho e Branco, fazendo lembrar os trabalhos de Arlindo Rodrigues, João Trinta e Rosa Magalhães em suas marcantes passagens pelo Salgueiro.

O samba de enredo da Escola não era o meu favorito nas eliminatórias, mas mostrou-se durante os ensaios técnicos e no próprio desfile oficial ter sido a melhor escolha possível para a agremiação. A obra da parceria de Marcelo Motta e cia. descreveu o enredo como a muito tempo eu não via acontecer no Salgueiro. O refrão de cabeça que alguns acharam uma afronta, já que fazia apologia a própria Escola ("Salgueiro é amor que mora no peito/Com todo respeito o REI DA FOLIA/Eu sou o Cordel Branco e Encarnado/'Danado' pra versar na Academia") é perfeito. Entra no clima do Cordel e já prenuncia o "repente" que à partir dali se inicia. E o Quinho, heim?! O "seu" Melquizedeki Marins Marques deitou e rolou com esse sambão. Com o apoio de luxo de Léo Bessa e Serginho do Porto, o rei dos "cacos" teve um de seus melhores desempenhos nos últimos 10 anos.

A "Furiosa do Salgueiro" comandada pelo grande mestre Marcão honra as tradições de quem um dia teve a frente "regentes" do porte de Arengueiro, Almir Guineto e Louro. É talvez a melhor bateria da atualidade no Rio de Janeiro. Sem contar que tem uma das mais belas Rainhas da história do Carnaval carioca, a maravilhosa Viviane Araújo, uma salgueirense convicta e que defende a sua agremiação como poucas.

Na defesa do pavilhão salgueirense, o casal Sidclei e Gleyce Simpatia mantiveram a regularidade dos últimos anos e não comprometeram. Estiveram longe de serem ruins, mas acho que não houve tanta "liga" entre o casal. Preferia ver a Gleyce dançando com o Ronaldinho, esses dois sim tinham a química necessária para empunharem o pavilhão Vermelho e Branco do Salgueiro.

Na média, um desfile do mesmo nível do apresentado na noite anterior pela Vila Isabel. Acreditava até então que o título seria decidido entre as duas em questão de detalhes.

Mas como cabeça de jurado é algo que eu deixei de tentar compreender já faz tempo, nem Salgueiro, nem Vila. Ainda que ambas tenham alcançado 2° e 3° colocação respectivamente, o resultado não fez juz ao que ambas apresentaram no Carnaval de 2012. Mas paciência, né...

O Salgueiro como já disse vem se tornando um modelo de administração em Escolas de Samba, e assim a presidente Regina Celli é adepta da máxima, "em time que está ganhando não se mexe". O casal Renato e Márcia Lage, a trinca de intérpretes, mestre Marcão e o casal Sidclei e Gleyce Simpatia permanecem em seus postos e vão tentar levar o Salgueiro a mais um campeonato.

Se a deficiência no que diz respeito a concentração for sanada, vejo a Vermelho e Branco como franca favorita ao título de 2013. Muito disso claro, graças ao mestre Renato Lage que no auge de seus 63 anos, segue como uma fonte inesgotável de criatividade e genialidade.

Nem melhor nem pior... apenas Salgueiro.

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