Logo após o carnaval de 1999, um dos maiores anceios dos sambistas bragantinos enfim tornou-se realidade. A Liga Independente das Escolas de Samba de Bragança Paulista (LIESB) deixava de ser apenas um sonho para se transformar na entidade maior que à partir daquele momento, cudiava dos interesses das agremiações carnavalescas da cidade.
A entidade que teve como primeiro presidente Cléber Centini Cassali, começou a trabalhar cedo pela organização e continuidade do bem executado projeto da Secretária de Cultura e Turismo que fez dos desfiles de 1999 um extrondoso sucesso de público e crítica.
A Passarela Chico Zamper a cada ano que passava ganhava uma maior atenção das autoridades envolvidas no evento e já desfrutava de uma estrutura capaz de abrigar mais de 50 mil pessoas por noite.
A polêmica do ano se deu pelo fato da liga diminuir o tempo de desfile para 50 minutos no Grupo Especial (denominação a qual passaria a ser usada este ano) e 45 minutos para as agremiações do Grupo de Acesso. A justificativa para isso foi a de que o trajeto do sambódromo estava 10 metros menor que nos últimos anos. A maioria das Escolas protestou mas de nada adiantou.
Novamente a TV Bragança foi responsável pela transmissão dos desfiles, este ano, porém, com uma maior ênfase em sua programação. Um dos principais programas da emissora na época, o João Carlos Carvalho Urgente, recebia uma agremiação por dia com seus respectivos presidentes, carnavalescos, intérpretes e casais de mestre-sala e porta-bandeira, para que contassem um pouco do que preparavam para o desfile e para apresentar os sambas enredo.
Falando em sambas, o CD, sucesso de vendas no ano anterior, foi novamente produzido por Davi do Pandeiro no Rio de Janeiro e contou com uma boa safra.
No domingo de Carnaval (05/03), o desfile teve início pontualmente às 20:00 h. com uma enorme queima de fogos que dava as boas vindas para o primeiro Carnaval do Novo Milênio.
G.R.C.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE JÚLIO MESQUITA
Erroneamente "convidada" a abrir os desfiles (pela posição obtida no ano anterior deveria ter ido para sorteio), a Mocidade Júlio Mesquita, que aquela altura já era considerada a quinta força do Carnaval bragantino buscava a sua afirmação no grupo de elite após algumas decepções. O enredo "Palmares, Ideal da Liberdade... Brasil, Fala a Verdade", da carnavalesca Magda Regina, era um grito de igualdade e se propunha a contar um pouco da história do negro no Brasil. O desfile que foi aberto com a Corte de Zumbi, na comissão de frente alternou entre bons e maus momentos. A opção da carnavalesca por tons de vermelho e laranja em algumas alas deu um aspecto um tanto quanto estranho a Escola, que tinha como marca a utilização de suas cores. Em termos plásticos, as alegorias não me agradaram, com excessão do último carro que representava uma favela e estava muito bem projetado, as demais apresentavam formas grosseiras e um relaxo no acabamento que não condizia com a história recente da Mocidade. Em algumas fantasias, o uso da palha e da ráfia funcionou muito bem, dando ao desfile a correção que o tema exigia. O samba enredo da Escola, considerado com todos os méritos um dos melhores do ano, foi defendido na avenida com muita categoria por Zequinha Rodrigues e Dizinho. A Mocidade terminou sua apresentação com algumas falhas de harmonia provocadas pela pressa com que alguns diretores de alas obrigaram seus componentes a evoluir. Um absurdo, já que a Escola não aparentava ter mais do que 450 componentes. Foi um desfile irregular, sem a ousadia prometida pela carnavalesca e sem a força que se esperava devido à suas últimas apresentações.
G.R.E.S. UNIDOS DO LAVAPÉS
Com o enredo "Lua - Mágia, Poder e Encanto", do carnavalesco Eduardo Rojo, a Unidos do Lavapés pretendia apagar a péssima impressão deixada com o problemático desfile de 1999 contando um pouco dos mitos, lendas e histórias que envolvem a Lua. O samba enredo de Gera da Cuíca, Sérjão e Jorjão, servia perfeitamente ao enredo e descrevia tudo o que a Escola levou para a avenida. Com a predominancia do verde e rosa, a Lavapés abriu o seu desfile com uma comissão de frente ricamente vestida de astrólogos. O abre-alas, apenas apresentava a Escola, sem nenhuma ligação com o enredo. A alegoria representava a águia em seu ninho. A boa bateria apresentou-se vestida de pescadores, no mesmo setor em que o bonito carro das marés empolgou o público. Aliás, em termos de alegorias, a Escola passou muito bem, com destaque para o segundo carro que trazia uma belíssima escultura de São Jorge, fazendo alusão aos elementos da natureza e as entidades africanas cultuadas no Brasil. Alguns tripés ajudaram a explicar o enedo na avenida, o que tornou o desfile bastante didático e de fácil entendimento, uma caracterista do carnavalesco por sinal. O desfile sem maiores problemas, terminou com uma bonita mensagem de esperança na alegoria intitulada "Nova Era", que trazia vários casais de diferente idades em frente a um belo chafariz. Ao termino da passagem da Lavapés, um timido grito de "é campeã" chegou a ser ensaiado.
G.R.C.E.S. NOVE DE JULHO
Ainda inconformados (e com razão) pela perda do título de 1999, a Nove de Julho apresentou o enedo "Carnaval na Avenida, Circo da Vida", dos carnavalescos André Acedo e Ana Carla, que nada mais era do que um bem humorado protesto contra os jurados que segundo o próprio enredo, "fizeram mágica e desapareceram com o título da Escola. O mundo do circo foi abordado no primeiro setor. Domadores, Mágicos, Palhaços, Bailarinas, Equilibristas e Malabaristas compuseram em um colorido genial o quadro intitulado de "O Circo Chegou". Na exibição do segundo quadro, um mar vermelho e branco tomou conta da Passarela Chico Zamper. Neste setor, teve início a crítica em relação ao Carnaval passado. O maior motivo de insatisfação da Escola, os pontos retirados dela referentes a quebra de um carro alegorico no desfile da escola que a precedeu, se transformou em uma originalíssima alegoria, com esculturas de palhaços circulando um carro velho (uma brasília) quebrada. O protesto foi claro e ao mesmo tempo sem ofender ninguem. Os mais de 700 componentes evoluíram de maneira correta e sem correria, o que serviu para valorizar ainda mais o visual apresentado pelos carnavalescos. Alguns tripés ajudaram a compor o cenário, alguns deles muito bem realizados. Outros nem tanto. A bateria esteve firme, com uma boa cadência e o samba de Anderson, Cézar, Paulo D'angelo e Tiquinho foi bem defendido pelo próprio Paulo D'angelo e pela família Pires, que fazia sua estréia no microfono da agremiação. Esses fatores ajudaram a valorizar o samba que não estava entre os melhores do ano.
G.R.C.E.S. ACADÊMICOS DA VILA
Passava das 23:00 h. quando o momumental abre-alas da Acadêmicos da Vila começou a se movimentar com certa sofreguidão na concentração so sambódromo. A alegoria em dois módulos que representava um trem era demasiadamente grande e apresetnava problemas desde as primeiras horas da tarde de domingo. O enredo "80 Anos de Nicóla Cortez", do carnavalesco Mingo, prestava uma justa homenagem ao ex-prefeito de Bragança Paulista que idealizou a construção do sambódromo em 1991. Com um número exagerado de componentes (algo em torno de 900), a Escola não foi a mesma dos outros anos e teve inúmeras falhas de harmonia e evolução ao longo de sua passagem. A comissão de frente, que representava a infância na década de 20, trazia grande pipas no costeiro e não favoreceram na evolução de seus componentes que claramente se mostravam desconfortáveis com o figurino. O abre-alas que seguiu dando problemas empacou de vez pouco a frente do primeiro módulo de julgadores, o que deixou a Escola parada por cerca de 30 minutos. O fato marcante que ocorreu neste desfie, foi a ordem da comissão organizadora do Carnaval para que o cronômetro, que a certa altura marcava 49 minutos de desfile (o máximo era de 50 minutos) fosse zerado, fazendo assim com que a agremiação não fosse penalizada com o estouro de tempo. Um verdadeiro absurdo. Com o problema da alegoria parcialmente resolvido, o desfile seguiu com alas que representavam a trajetória do homenageado em suas mais diversas facetas. Alas como a dos mascates, dos comerciários e dos industriais, mostravam com grande correção a vida de Nicóla, que surgiu emocionadíssimo na última alegoria da Escola, que fazia alusão a "Casa da Sogra", a loja de móveis e eletrodomésticos que era o carro chefe dos empreendimentos de Cortez. A bateria de méstre Bira se apresentou muito bem, sustentando o ritmo até na hora em que a Vila correu para terminar o seu desfile. A essa altura, a Escola já estava a mais de uma hora e meia na avenida. Apesar do belo visual, o carnavalesco errou a mão em castigar os componentes com fantasias muito pesadas. A opção pelo excesso de luxo não foi das mais felizes. Enfim, um desfile que merecia ser esquecido. Ainda mais em se tratando de uma tri-campeã.
G.R.F.S. DRAGÃO IMPERIAL
Perfilada na concentração desde às 23:00 h. a Dragão Imperial esperava pacientemente pelo início de seu desfile. E com as notícias nada boas do que acontecia com a Acadêmicos da Vila no sambódromo, a esperança do título parecia cada vez mais real. Pouco antes da 1:00 h. a Faculdade do Samba foi autorizada a iniciar a sua apresentação. "Voracidade Milenar - Lendas e Mistérios do Dragão", foi o enredo desenvolvido pelo carnavalesco Theodoro Trinta. O tema era uma exaltação ao simbolo da Escola, assim como a Vila havia feito em 1999. A convocação do intérprete Cássio Imperial na largada do samba chamava os componentes para brigarem pelo título tão sonhado, porém, para desespero da emergente torcida azul e rosa, o carro abre-alas que trazia três dragões teve assim como na passagem da Escola anterior, problemas para se movimentar. Pior, alguns metros antes da primeira cabine de jurados, a cabeça de um dos dragões simplesmente despencou, gerando um alvoroço dos diretores da agremiação em volta do carro para tentar concertá-lo sem prejudicar na cronometragem. Após muito corre-corre e contando com a ajuda de diretores de outras Escolas, o problema estava solucionado. Mas a essa altura, a Dragão Imperial já estava com 34 minutos de desfile. Mais de 600 componentes teriam de passar por uma pista de 740 metros em pouco mais de 15 minutos, uma missão praticamente impossível. E assim como na passagem da Acadêmicos da Vila, o cronômetro também foi zerado. A essa altura quem comemorava eram os torcedores da Nove de Julho, que até então havia feito o melhor desfile da noite e passava a ver que o campeonato era possibilíssimo. Voltando ao desfile da Imperial, o visual foi irregular, principalmente se considerarmos que o uso das cores não foi dos mais felizes em alguns momentos. Gostei muito da alegoria que trazia São Jorge em uma escultura de proporções bastante consideráveis. Ela não estava bonita como a da Unidos do Lavapés, mas foi de longe o melhor momento desse desfile. A bateria, que se apresentou como os "Dragões da Independência" deram um verdadeiro show. Foi ao lado das gueixas da comissão de frente o melhor momento da Escola. Ao final, o carro que representava as Drag Queens, exagerou no uso das cores e passou uma impressão um tanto quanto controversa em um momento completamente "fora de sintonia", embora, dentro do enredo. Foi um desfile simpático, mas bastante irregular.
Com todos os problemas enfrentados pela Acadêmicos da Vila e pela Dragão Imperial, grande parte da mídia e do público já dava a Nove de Julho como a campeã de 2000. A Unidos do Lavapés corria por fora na disputa, já que havia segundo as palavras do apresentador Juarez Sérgio em uma mesa redonda na terça-feira de carnaval, apresentado um desfile "sem a alma de Lavapés". Muitos torcedores da verde e rosa compartilhavam dessa opinião.
Na apuração do Grupo de Acesso, que aconteceu pouco antes da do Especial, a Sociedade Fraternidade, ex-União do Lago conquistava o direito de desfilar na Elite do samba bragantino em 2001 e a Unidos da Zona Norte, ganhava a promoção para o Acesso.
Com a comissão de Carnaval da Prefeitura e a própria LIESB (por motivos óbvios) ignorando os abusivos estouros de tempo de Vila e Dragão, a apuração teve início sob um clima de desconfiança geral de público e componentes das diretorias que não viam com bons olhos as atitudes do sr. Cléber Centini Cassali que favoreciam a sua Escola.
Com o passar dos quesitos, a Acadêmicos da Vila e a Dragão Imperial iniciaram a disputa pelo título com a Unidos do Lavapés (para a surpresa geral) e a Nove de Julho se alternando na terceira colocação. Com uma sucessão de notas baixas, a Mocidade logo já se deu conta de que o rebaixamento era inevitável.
O final da apuração foi sob vaias e gritos de "ladrão", entoados em direção de onde se encontrava Alessandro Sabella, relações públicas da Prefeitura e diretor da Acadêmicos da Vila. Em dado momento, o presidente da LIESB também não foi poupado.
O resultado oficial apontou o seguinte:
1° Acadêmicos da Vila - 293 pontos;
2° Dragão Imperial - 290;
3° Nove de Julho - 286,5;
4° Unidos do Lavapés - 284;
5° Mocidade Júlio Mesquita - 268,5.
A Nove de Julho mais uma vez era assim como em 1999 a grande injustiçada. A Acadêmicos da Vila comemorou o inédito tetra-campeonato e a Dragão Imperial mais uma vez ficava com o vice-campeonato.
A polêmica do cronômetro nunca foi esclarecida e o incidente foi praticamente esquecido pelas autoridades "competentes". Restou mesmo a indignação de quem presenciou esse fato lamentável na história do Carnaval bragantino.
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