Passado o grande Carnaval de 1995, as atenções do publico sambista cresciam cada vez mais sobre as grandes Escolas de Samba de Bragança Paulista.
Para 1996, mudanças no regulamento fariam dos desfiles mais atrativos do ponto de vista dos espectadores, já que o tempo de apresentação das Escolas passaria de 50 para 60 minutos, proporcionando assim um espetáculo mais técnico. O número de jurados também cairia, uma vez que o julgamento aconteceria apenas em uma noite, não em duas como nos últimos anos.
Havia previsão de chuva para o domingo, 18 de fevereiro, mas graças aos deuses do Carnaval, o dia foi de Sol intenso e a noite bastante agradável com direito a uma leve e refrescante brisa.
O desfile teve início às 20:00 h. para espanto daqueles que acreditavam nos atrasos costumeiros e na desorganização que insistia em imperar no início da década de 90.
Um problema grave enfrentado pelas agremiações foi novamente o descaso da Secretária de Cultura e Turismo para com a área de concentração, uma vez que com o aumento considerável no número de alegorias das Escolas, algumas delas chegaram a se concentrar a aproximadamente 500 metros do início do sambódromo, o que acabou gerando alguns contratempos, mas nada que comprometesse o brilho daquele desfile.
G.R.C.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE JÚLIO MESQUITA
Após uma assenção meteórica, a Mocidade Independente estreava no desfile principal cercada de expectativa. Tal curiosidade se dava após o indiscutível título conquistado em 1995 no Grupo de Acesso quando apresentou o irreverente "Sem Real, Reciclamos o Carnaval", de autoria do carnavalesco Alexandre Colla. Para 1996, os animos da diretoria e da comunidade estavam em alta e todos se mostravam dispostos a buscar uma boa colocação. Com o enredo "Dança Brasil", a Escola entrou na pista embalada por um samba de excelente qualidade e que representava muito bem o enredo interpretado pelo sempre regular Dizinho. Nas fantasias e alegorias predominavam o branco, o prata e o dourado. O abre-alas trouxe o brasão da Escola, sustentado por dois leões e com uma bonita coroa girando no alto da alegoria. Aliás, vale à pena ressaltar o brilhante trabalho de alegorias realizado por Alexandre Colla. Os carros eram grandes e apresentavam esculturas e destaques de composição de indiscutível bom gosto. As alegorias mais bonitas eram as que representavam a Índia e o Balet Lago dos Cisnes, com a presença de bailarinas de verdade ensaiando passos do musical. A bateria vestida de Califa sob a regência do méstre Milton Carioca deu um verdadeiro show de ritmo e foi considerada a melhor do ano pela crítica especializada. O final do desfile trouxe uma bela sequência de alas que mostrava as principais manifestações folclóricas brasileiras, como o Maracatú, o Jongo, a Congada e a Folia de Reis. Foi um desfile muito acima do esperado por parte de uma Escola que acaba de chegar ao Grupo Especial. Só achei que a Mocidade desfilou com bem menos do que os 600 componentes anunciados.
G.R.F.S. DRAGÃO IMPERIAL
Com o enredo "Água Que Passarinho Não Bebe", da carnavalesca Sônia Feijó, a Dragão Imperial seguia em busca de um lugar ao Sol em meio ao convivio das grandes Escolas de Samba de Bragança. O enredo iria mostrar de maneira muito bem humorada os mais diversos tipos de bebidas apreciadas ao redor do Mundo, desde a popularíssima caipirinha brasileira até o sisudo gim, das frias terras escandinávas. Com a predominância do Rosa em suas fantasias, a Dragão novamente optou por alegorias pequenas, mas bem descritivas. O destaque alegórico fica por conta do carro que trazia uma caravela viking cercada por vários componentes representando o mar. A utilização de materiais simples na confecção das fantasias não gerou o efeito esperado pela carnavalesca, mas também não chegou a comprometer o conjunto. A bateria da Escola se apresentou de maneira correta e o samba que seguiu a linha do bom humor não chegou a empolgar como acreditava-se que aconteceria. No geral foi um desfile fraco, bem inferior ao da primeira Escola a se apresentar, a Mocidade Independente, porém, a família Imperial acreditava que a empolgação de seus componentes seria suficiente para coloca-la na briga pelo tão sonhado título.
G.R.C.E.S. NOVE DE JULHO
Passava das 22:00 h. quando uma grande queima de fogos anunciou o início do desfile da atual bi-campeã do Carnaval bragantino, a Nove de Julho. Com o enredo "Epopéia de Gigantes", que narrava a história da Olimpiadas e comemorava a chegada dos Jogos Abertos do Interior à cidade de Bragança Paulista, o carnavalesco Tito Arantes Filho concebeu um dos desfiles mais bonitos da década de 90. Desfilando com cerca de 900 componentes (um certo exagero) e embalados por um samba valente e de melodia marcante, a Nove de Julho novamente abusou do luxo e do requinte na apresentação de suas fantasias e alegorias. O carro abre-alas trouxe a representação do Monte Olímpo, com as figuras da deusa Athena e de pégasus componto o cenário que contou ainda com ninfas e gladiadores. A bateria novamente comandada por méstre Clay foi um dos pontos altos do gradioso desfile. A presença do vermelho e branco em quase todas as alas deu um toque de imponência a apresentação da Escola, que crescia ainda mais a cada virada do enredo. Já no setor que reverenciava os Jogos Abertos do Interior, a alegoria que fazia alusão às modalidades praticadas na competição trouxe uma piscina olímpica e vários elementos referentes aos materiais e equipamentos utilizados pelos atlétas. Um arrombo de criatividade. No final, uma alegoria toda espelhada trazia a bandeira olímpica e a logomarca dos Jogos Abertos de 1996, em uma belíssima homenagem a cidade de Bragança Paulista. A evolução da Escola seguiu fluente até o final do desfile. Sem dúvidas, foi um dos melhores desfiles da Nove de Julho e um dos melhores daquele Carnaval.
G.R.C.E.S. ACADÊMICOS DA VILA
Quando todos imaginavam que o desfile já estava "decidido", eis que uma segunda grande queima de fogos tem início e as arquibancadas da passarela Chico Zamper ganham as cores azul e branco. O discurso inflamado e emocionado de Alessandro Sabella, relações públicas e méstre de cerimônias da Acadêmicos da Vila antes da "largada" do samba enredo motivou ainda mais os componentes da Escola que começaram o desfile com os animos lá em cima. O enredo "Carmem Miranda, Banana da Terra", da dupla Neinha e Pudim prestava uma bela e justa homenagem a cantora que colocou o nome do Brasil nas principais paradas de sucesso Mundo à fora. A comissão de frente da Vila composta por 10 belíssimas sósias da cantora arracou calorosos aplausos do público que ensaiava ainda timidamente um grito de "é campeã". As alegorias da Escola se destacavam pela beleza das formas e as boas soluções alcançadas pelos carnavalescos em termo de materiais alternativos. O carro que representava a Rádio Nacional foi um dos melhores do desfile de 1996. Nada da vida e da carreira da cantora foi esquecido. O estilo tropicalista, o Cassino da Urca, a passagem pelos Estados Unidos, tudo estava lá. O samba enredo interpretado de maneiram empolgante por Dú Melancia e a excepcional bateria dirigida pelo méstre Claudinho Português foram outros fatores determinante para o sucesso do desfile. O carro que mostrava os filmes estrelados por Carmem Miranda foi representado pela figura de um grande projetor, de onde surgiam vários rolos de filmes com imagens da homenageada. A última alegoria mostrava a festa da chegada de Carmem Miranda ao céu, com vários anjos e estrelas em um belíssimo jogo de azul e prata. Foi um desfile técnicamente perfeito e com um contingente super favorável para o tipo de apresentação proposto pela Escola, cerca de 700 figurantes. A Escola passou sem abrir e com uma evolução fluente e costante.
G.R.E.S. UNIDOS DO LAVAPÉS
"Em Busca do Paraíso", de Alexandre Martins foi o enredo da Unidos do Lavapés, no carnaval de 1996. Contando a saga do espanhol Fernando Orellana em uma expedição no continente americano em busca do eldorado, a Verde e Rosa apostou em uma linha diferente de tudo aquilo que já tivera apresentado ao longo de 34 anos de existencia. O luxo seria explorado em fantasias e alegorias como jamais havia sido na tradicional agremiação do bairro do Lavapés. A comissão de frente foi formada por 10 navegadores espanhois que apresentaram uma bonita coreografia. Seguiu-se o carro abre-alas com destaques fazendo referencia aos nobres europeus do século XIV pedindo passagem para uma grande sequência de alas vestidas de índios. As baianas surgiram no setor das frutas tropícais e estavam como sempre muito bem vestidas. Os mais de 800 componentes desfilavam com rapidez, porém com ótima evolução. O samba enredo de autoria de Gera da Cuíca e Glauco Guarú sofreu algumas modificações e não passou bem na voz do intérprete Serginho X-9, que substituia o méstre Sérjão, que não desfilou devido a compromissos profissionais. O último carro da Escola mostrava Adão e Eva em frente a uma bananeira, o que representava segundo o enredo de que o Paraíso Bíblico se encontrava no continente americano. Foi um desfile de autos e baixos, mas o excesso de luxo e a presença pouco constante do verde e do rosa fizeram da apresentação da Unidos do Lavapés fria e sem a comunicação com o público típíca dos últimos anos.
O desfile encerrou-se por volta da 01:30 h. da segunda-feira e a organização foi digna de aplausos. Os desfiles foram empolgantes, de uma beleza plástica inquestionável e em momento algum cansativo.
Para o público, Mocidade, Nove de Julho e Acadêmicos da Vila tinham chances de conquistar o título.
Para alguns especialistas, a Mocidade era a maior candidata ao lado da Nove de Julho, já que brigava no mesmo terreno que a atual bi-campeã. A Acadêicos da Vila e a Unidos do Lavapés corriam por fora, já que haviam feito desfiles considerados "técnicos".
No entanto, a apuração apontou uma verdade não compactuada com o grande público.
Eis o resultado oficial:
1° Acadêmicos da Vila;
2° Nove de Julho;
3° Unidos do Lavapés;
4° Dragão Imperial;
5° Mocidade Independente.
Mesmo com um brilhante desfile a Mocidade era rebaixada para decepção geral de uma diretoria que trabalhou sério e que mesmo com as dificuldades financeiras enfrentadas pela Escola conseguiu levar para a passarela Chico Zamper todo o luxo e o requinte que o enredo exigia.
A Acadêmicos da Vila, no ano em que inaugurava a sua "Morada do Samba", maior orgulho de sua história, conquistou um campeonato que se não foi brilhante, pelo menos conseguiu ser emocionante.
Mas o que são notas e colocações diante de um desfile tão bonito e empolgante como o de 1996? Mais vale é a nossa emoção! Mais vale o nosso Carnaval!
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