segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Irmão Sol, Irmã Lua - Carnaval 2003

O trágico Carnaval de 2002 havia ficado para trás.

Era hora de começar a pensar no que viria no ano seguinte. O Carnaval de 2003 não seria fácil, afinal, a quase cinquentenário Unidos do Lavapés iria pela primeira vez desfilar no sombrio Grupo de Acesso do Carnaval bragantino.

O presidente da agremiação, Paulo Alberti Filho vinha se recuperando muito bem do seu câncer na garganta e assumia novamente a frente da Verde e Rosa de maneira integral.

A decisão de manter a dupla de carnavalescos que tocou o projeto do Carnaval de 2002, Marco Aurélio Lisa e Sérgio Júnior, foi muito comemorada pela comunidade, que entendia que os artistar haviam recuperado o tempo perdido e colocaram uma bela Escola na Passarela Chico Zamper.

Ainda em março, a primeira conversa entre o presidente e a dupla de carnavalescos, definiu a linha de trabalho que seria adotada para recolocar a Unidos do Lavapés no Grupo Especial em 2004. Naquele dia, nada foi resulvido, ficou estabelecido apenas que o enredo deveria seguir uma linha que apostasse muito mais na emoção, do que no luxo ou na chamada "plática perfeita", o que mesmo que quisessem, seria algo praticamente impossível, uma vez que a subvenção para as Escolas do Acesso, são bem menos da metade do que o recebido pelas do Grupo Especial.

No entanto, uma proposta de enredo oferecida a Escola mudou completamente o destino da Verde e Rosa naquele ano. Uma proposta inesperada e vinda de alguem mais inesperado ainda.

No início do mês de Abril, o presidente Paulo Alberti foi procurado pelo monsenhor Lélio Mendes Ferreira, pároco da Igreja de São Francisco de Assis, no bairro do Lavapés, que ofereceu à Escola uma proposta de enredo para narrar a vida do Santo que dá nome a paróquia.

Logo de cara a idéia deixou o presidente Paulo Alberti um tanto quanto preocupado, pois muitos são os casos de intervenção por parte da Diocese em temáticas que abordam temas sacros. Mas após uma explanação feita pelo Pe. Lélio, esse receio ficou para trás, pois a idéia era de tratar Francisco de Assis como a pessoa que foi. A sua fé, seu amor pela vida, pelas pessoas e pelos animas, e sobre tudo, o seu desapego as coisas materiais.

A idéia foi bancada por toda a diretoria e posteriormente por toda a comunidade, que abraçou o tema e fez dele a sua maior força para superar o difícil ano qu estava apenas começando.

Após a definição das bases do enredo, a sinopse foi apresentada e á partir daí, Sérgio e Marco Aurélio, tiveram 40 dias para apresentar os desenhos de figurinos e alegorias que ilustrariam o enredo, batizado pelo próprio Pe. Lélio, como: "Irmão Sol, Irmã Lua".
Com a missão de passar as idéias do enredo para o papel, a dupla colocou todas as idéias na mesa e à partir daí, Sérgio passou tudo para o papel. Antes mesmo de terminar o prazo estabelecido pela diretoria, eles apresentaram os desenhos que logo de cara, agradaram pelas idéias, formas, tamanhos e principalmente cores, pois a Escola voltaria a desfilar em tons Verde e Rosa.

Ficou decidido também, que as fantasias seriam confeccionadas em uma fábrica especializada em São Paulo, pois a direção de carnaval pretendia com isso, fazer com que o nível de acabamento dos figurinos fosse um dos pontos altos da Escola em 2003.

Já que as fantasias seriam "importadas", foram feitos em Bragança Paulista as roupas dos dois casais de mestre-sala e porta-bandeira, destaques de chão, bateria, composições dos carros alegóricos e também as roupas de harmonias, apoios e intérpretes.

O barracão de alegorias por sua vez, teve início ainda no mês de novembro. Novamente sobre a "batuta" do carnavalesco Sérgio Júnior, a equipe trabalhava com o mesmo pensamento de quando estava no Grupo Especial, ou seja, preparando alegorias grandiosas, com muitas esculturas e um acabamento de primeira.

O carro abre-alas era sem sombra de dúvidas o destaque do barracão. Media aproximadamente 18 metros de comprimento, tinha 7 de altura e representava um Castelo Medieval, dos tempos de São Francisco de Assis e Santa Clara, que ganhou um grande espaço dentro do enredo.

Com tudo correndo dentro do presvisto, a Unidos do Lavapés era a Escola de Samba mais comentada e aguardada daquele Carnaval. Muito disso se deve ao enorme sucesso que o samba enredo da agremiação vinha fazendo na época pré-carnavalesca. Além de possuir belíssima letra e melodia valente, a interpretação magnífica do méstre Sérjão, deixava a obra dos compositores Jean Tim Maia e Juninho Sucesso, ainda mais emocionante.

Com a chegada do Carnaval, a mídia em cima da Verde e Rosa crescia assustadoramente. Nunca uma Escola de Samba do Grupo de Acesso teve tanta exposição na mídia.

A duas semanas do Carnaval, as fantasias já haviam chegado a Bragança e as alegorias estavam práticamente prontas, recebendo apenas os últimos retoques para o tão aguardado desfile. Nunca na história da Unidos do Lavapés, a agremiação conseguiu preparar um Carnaval com tanta antecedência. E isso éra motivo de extremo orgulho para o presidente Paulo Alberti e para a dupla de carnavalescos que se consolidava com a realização desse trabalho.

No dia do desfile, a diferença de qualidade nos trabalhos era gritante. Enquanto as demais agremiações do Acesso desfilavam com uma média 300 componentes, 8 alas e 3 alegorias, a Unidos do Lavapés despontou na Passarela Chico Zamper apresentando 450 componentes, 12 alas e 4 carros alegóricos com porte e acabamento de Grupo Especial.

A vibração daquele desfile foi um momento único na história do Sambódromo. Eu particularmente nunca vi as arquibancadas tão vibrantes quanto na passagem da Lavapés em 2003.

A medida que a Escola ganhava o sambódromo, podia se notar a dedicação dos carnavalescos em preparar um desfile a altura da tradição da Verde e Rosa. Desde os nobres da comissão de frente até a ala das crianças, que representava os lobos, fiéis amigos de São Francisco de Assis, podia se notar o capricho na confecção das fantasias e o requinte e a mínucia de detalhes das grandiosas alegorias.

O destaque no entanto, ficou para a passagem do último carro da Escola, que trazia a representação da rotatória localizada no Lago do Taboão, na entrada de Bragança Paulista, onde uma enorme imagem de São Francisco abraça a todos que chegam a cidade. O carro era uma réplica exata do local (foto). Para se ter idéia do nível do requinte da alegoria, a escultura de São Francisco presente no carro foi feita pelo mesmo escultor que esculpiu em pedra a original. O artista em questão é José Bueno.

Após o desfile a certeza não só da comunidade, mas como de todos que assistiram aquele grande espetáculo, era a de que a Escola já era a campeã daquele Carnaval.

A expectativa se confirmou na apuração. O título ficou de fato com a Verde e Rosa, que mais uma vez obtinha notas máximas em fántasias e alegorias, bem como em enredo.

Com o título, a Unidos do Lavapés retornava ao Grupo Especial com toda honra no carnaval de 2004. E mais uma vez, a dupla de carnavalescos Marco Aurélio Lisa e Sérgio Júnior mostrava competência e maturidade.

Para 2004, a expectativa era de um Carnaval com a cara da Lavapés. Mas isso é assunto para uma outra hora...

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