sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carnaval 2002: "Independência ou Morte"

Voltemos ao ano de 2001...

Nem parece, mas lá se vão dez anos. No Carnaval daquele ano, a Unidos do Lavapés, a mais antiga das Escolas de Samba de Bragança Paulista, obteve a 3° colocação no desfile do Grupo Especial, com o enredo "No Jogo da Vida, Banco a Sorte Pra Valer", de autoria do carnavalesco Eduardo Rojo, que abordava os jogos.

Até aquele momento, a Escola era presidida por Mário Alves de Almeida Neto.

Em março, terminou o mandato de Mário e a Verde e Rosa passaria por eleições. Mas como o momento que a Escola vivia era complicado em termos finânceiros e estruturais, o único candidato à presidência era o proprietário do Jornal Gazeta Bragantina, o jornalista Paulo Alberti Filho. Assim como o seu antecessor, Paulo Alberti foi aclamado presidente, uma vez que não houve nenhuma outra candidatura.

A posse de Paulo Alberti, representava um novo fôlego para a comunidade do Lavapés. Mas o seu mandato começou de maneira conturbada. Logo de cara foi anunciada mudanças pesadas: de uma vez só saíram o carnavalesco Eduardo Rojo, Jorjão, segundo intérprete da Escola e o diretor de Harmonia, Aírton.

Desde a sua candidatura, Paulo Alberti pregava que a Unidos do Lavapés necessitava seguir os passos do Carnaval atual, uma vez que é por característica, uma Escola que segue a linha tradicional. Para isso, anunciou a contratação da grande promessa da campanha, o consagrado carnavalesco paulistano Raúl Diniz, na época fazendo enorme sucesso na Rosas de Ouro.

Com a chegada de Raúl, a euforia tomou conta da comunidade e a certeza de um grande desfile era total. Poucos dias após seu anunciou oficial, Diniz apresentou o enredo "Independência ou Morte", enredo controverso e polêmico que até hoje não foi muito bem entendido pela crítica.

Todo o projeto de Carnaval era fabuloso. Uma Escola grandiosa e muito luxuosa iria nascer nos barracões e aateliês da Verde e Rosa.

Porém, nem tudo são flores...

Em novembro daquele ano o primeiro "baque" atinge a Unidos do Lavapés, o presidente Paulo Alberti descobre um câncer na garganta e se afasta de Escola para realizar pesado tratamento em Havana, Cuba. Em seu lugar assume o vice-presidente, Nivaldo Caixa.

Em janeiro de 2002, a segunda notícia perturbadora, Raúl Diniz pede demissão e abandona o projeto do Carnaval em menos de 40% de sua realização.

Caixa, em um momento de desespero busca uma solução para tocar o projeto sem maiores despesas, uma vez que dinheiro ainda era algo raro pelos lados do Lavapés. Sem sucesso nas investidas sobre o carnavalesco Roberto Solene, grande sonho de Nivaldo para o momento, o presidente Paulo Alberti, mesmo a distância, mas ciente dos fatos ocorridos na Escola, toma uma decisão que pegou todos de surpresa. Em um e-mail enviado diretamente para a secretária da agremiação, Lílian Cortese, Paulo nomeava Marco Aurélio Lisa ex-carnavalesco da União do Lago na década de 90 e diretor do ateliê da Verde Rosa, juntamente com o garoto Sérgio Júnior (na época apenas Sérginho), de 14 anos como a nova dupla de carnavalescos da Unidos do Lavapés.

Nota: apesar de estar com 14 anos na época, eu vinha de dois anos consecutivos trabalhando como aderecista no barracão da Escola, acompanhando o carnavalesco Eduardo Rojo. Para 2002, vinha trabalhando juntamente com a equipe do Raúl Diniz na construção dos carros alegóricos e era um dos pousoc, pra não dizer o único que conhecia o projeto em sua totalidade.

A notícia caiu como uma bomba na comunidade. Apesar de conhecerem o trabalho de Marco Aurélio, o nome de Sérgio Júnior ainda era uma incógnita. Ninguem entendia o porque de Paulo Alberti o colocar como carnavalesco.

A resposta veio algum tempo depois com uma nota divulgada na Gazeta Bragantina, explicando os motivos que o levaram a fazer do menino Sérginho, carnavalesco de uma das mais importântes Escolas de Samba da cidade de Bragança Paulista.

Segue trecho da nota divulgada no dia 27 de janeiro de 2002, na página principal do jornal Gazeta Bragantina, pelo próprio Paulo Alberti Filho.

"...ao me ver em tal situação, entrei em contato com o Marco Aurélio Lisa. Por ter alguma experiência na elaboração de outros carnavais à frente da União do Lago, acreditei se tratar de uma pessoa com capacidade e talento para dar seqüência ao trabalho do Raúl. Para a minha surpresa, Marco Aurélio disse se sentir extremamente honrado pelo convite, mas só aceitaria com uma condição, que o Sérginho também fosse alçado à carnavalesco e ficasse responsável pelo barracão de alegorias, onde já vinha trabalhando com a equipe desde o final de outubro".

Após a dupla assumir o carnaval da Verde e Rosa, parte do projeto que ainda estava sendo iniciado, foi alterada para ganhar tempo e cortar gastos, principalmente no barracão. A falta de dinheiro foi tão grande em 2002, que as alegorias ficaram prontas somente na tarde do domingo de Carnaval, gerando muita preocupação na comunidade.

A Unidos do Lavapés seria a última Escola de Samba a desfilar no Carnaval de 2002, às 00:00 h. do Domingo, dia 10 de Fevereiro.

E para a alegria de toda a Nação Verde e Rosa, os temores haviam se transformado em esperança.

A Escola entrava na avenida com muito luxo desde a comissão de frente, onde 10 homens vinham fantasiados de Águia, o simbolo da agremiação. Em seguida, um enorme carro abre-alas dispontou na pista todo em Verde e Rosa e com outra águia bem à frente, mas dessa vez uma bem maior que a dos componentes da comissão de frente. O destaque central do abre-alas era o cabeleireiro Preto, que trajava uma deslumbrante fantasia em tons de preto, roxo e branco. Após a passagem do primeiro carro, seguiram alas em diversas tonalidades de verde até a chegada da ala das baianas, toda em branco com a tradicional faixa das costas em rosa. O branco dos vestidos das baianas contrastava lindamente com o lilás que predominava no segundo carro da agremiação, intitulado "Dependentes da Beleza", que abordava a industria dos cosméticos na busca do homem em sempre se tornar mais belo. À parti daí o rosa prevaleceu. As alas faziam harmoniosas combinações da tonalidade e explodiam no multicolorido do carro "Dependencia Química", onde o destaque era uma enorme escultura de caveira que se erguia do fundo da alegoria. O último setor do desfile da Lavapés abordava a vitória da vida. Celebrava a saúde e o lema mente sã em corpo são. Este setor foi banhado por fantasias em branco e prata. O último carro, intitulado "A Vitória da Vida", trazia uma escultura monumental de um anjo em meio a nuvens. A alegoria provocou um grande efeito e encerrou com chave de ouro o brilhante desfile da Verde e Rosa.

O que vinha sendo motivo de comemoração após a passagem da Escola, voltou a ser preocupação. A Liga Independente das Escolas de Samba de Bragança Paulista (LIESB), anunciou que a Unidos do Lavapés seria penalizada por não cumprir com os prazos estipulados pela Liga para a entrega de seu material para os jurados. Assim, a agremiação foi avaliada sem o descritivo de seu enredo, alas e carros alegóricos.

Mesmo com o visual (alegorias e fantasias) garantindo 60 pontos, as notas baixas em enredo, bem como em mestre-sala e porta-bandeira, evolução e um inexplicável 8,5 em bateria, acabou culminando no inacreditável e inédito rebaixamento da Escola.

Sim, pela primeira vez, em 40 anos de existência a Unidos do Lavapés era rebaixada para o Grupo de Acesso.

Logo após o Carnaval, Nivaldo Caixa, principal responsável pelo não cumprimento do regulamento, foi demitido por Paulo Alberti. O mesmo era esperado pelos carnavalescos. Tanto Sérgio, quanto Marco Aurélio, esperavam a demissão. Mas tanto o presidente Paulo, quanto a comunidade, reconheceram o belo trabalho realizado pela dupla e aclamaram a permanência de ambos.

A missão deles porém não éra das mais fáceis: teriam de encarar pela primeira vez um Grupo de Acesso com a Unidos do Lavapés. Mas dessa vez, teriam a seu favor um bom planejamento e o benefício de poderem trabalhar o projeto desde o início de seu desenvolvimento.

O Carnaval de 2003 começou logo após a decepção de 2002, mais precisamente em março, mas isso já é história para um outro dia...

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